Pecados mortais do professor – um a um (1 de 7)


Estrela de sal, Ricardo Alves, 1000imagens Posted by Hello

1 – A vaidade ou a arrogância titulada

Tomás de Aquino, (em De Malo, 9, 1) escreve sobre a vanglória (vã-glória) ou vaidade como pecado capital – como esplendor (daí os adjetivos de brilhante, ilustre, esplêndido etc).
A perversão do bem da glória é precisamente a glória vã da vaidade.
“Sendo o fim próprio da vaidade a manifestação da própria excelência, chamam-se filhas da vaidade aqueles vícios pelos quais – direta ou indiretamente – o homem tende a manifestar a própria excelência.”

Pode ser encontrado na “selva académica”, no professor que age como se os simples mortais, incluindo os alunos, fossem obrigados a pagar um tributo à sua titulação.
Estes, por seu turno, projectam nele o futuro a ser alcançado. Piora se, além de modelo a ser seguido – ou repudiado – o Prof. Dr. fulano de tal, pela posição que ocupa na hierarquia académica e pelo que lhe está atribuído, tiver recursos para manter os alunos sob a sua dependência.

Consequências:
Alguém que se irrita com a impertinência de quem interrompe para fazer perguntas.
Que exige um status diferenciado em relação aos outros.
A sua atitude demonstra uma visão elitista e preconceituosa em relação ao conhecimento e à (eventual) capacidade dos outros para se apropriarem dele.
A altivez e a presunção de ser superior dificulta o entendimento de que a retórica nem sempre dá conta de tudo e que, para se posicionar social e politicamente, nem sempre é necessário o domínio das teorias complexas.
Leva a uma grave redução dos princípios que fundamentam a competição na sociedade e de uma irrecusável ligação ao título, ao grau, quase de modo independente dos conteúdos.

Tarefas:
a) refletir sobre os vínculos entre a excelência do conhecimento teórico e a vaidade expressa em sentimentos de superioridade
b) ir além da pretensa erudição, do conhecimento enciclopédico e perceber quando é que a arrogância “se casa com a ignorância”
(ver comentários à entrada http://conversamos.blogspot.com/2005/05/sinapticando-e-os-pecados-mortais-dos.html)
c) perceber a fragilidade do arrogante apesar da dificuldade que se tem em “aturá-lo”.
d) eventualmente, desafiar o arrogante a um banho de humildade.

Virtude a desenvolver: a humildade científica

Autor: LN

LN é sigla de Lucília Nunes. Este blog nasceu no Sapo em 2001. Esteve no Blogspot desde 01.01.2005. Importado para Wordpress a 21.10.2007. Ligado ao FaceBook desde 13.12.2010 (e desligado em 2017).

13 opiniões sobre “Pecados mortais do professor – um a um (1 de 7)”

  1. A minha “longa” experiência de estudante tem demonstrado esta conclusão: “Quanto mais humilde é o professor na abordagem, mais se revelam as suas profundas qualidades de didacta e sábio”. A vaidade, regra geral, encobre muita inconsistência e superficialidade. Habitualmente os vaidosos são “mono-cientistas”, ou seja, especialistas em “monos”.

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  2. Vieira Alves, ri-me com a expressão da última frase…

    e concordo – aliás, vivo (enquanto estudante e pessoa) com a noção de que a vaidade e o sentimento de auto-grandeza parece acompanhar genericamente pequenos portes pessoais e profissionais…
    O que considero mais perturbador é a dificuldade efectiva que essas pessoas têm em perceber uma imagem realista de si mesmos.
    Já agora, mesmo quando muito se sabe, percebe-se a imensidão de coisas por saber – e isso torna mais humilde, dá mais a noção da pequenez humana…

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  3. Só posso concordar com tudo o que se disse na entrada e nos comentários – “so much food for thought”!
    Fiquei a cismar nesta tarefa:
    d) eventualmente, desafiar o arrogante a um banho de humildade.

    Hummmm… (ocorrem-me entretanto meia dúzia de ideias perversas…) Também aqui é preciso proceder com alguma sensibilidade e inteligência, não? Para que os efeitos não sejam contra-producentes e o “feitiço se vire contra o feiticeiro”… ;o)

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  4. Essa tarefa devia ter o eventualmente sublinhado 😉

    que é preciso ajuizar bem em que casos é que pode resultar. E acautelar-se com os efeitos, sim.

    Fico curiosa com as ideias perversas, DK.

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  5. Pois é DK. As ideias jorram e quanto mais perversas, mais entusiamantes.
    O problema é a sua implementação (grande palavrão).
    Estes homunsculos, na definição de Paracelso, reproduzem-se exponencialmente.

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  6. Lida-se bem ou mal com a arrogância (do professor), dependendo do nivel de ensino em que se está e da própria estrutura mental que se desenvolveu. Não me parece um pecado muito malévolo. Tenho tido professores extremamente arrogantes e com os quais tenho aprendido muitas coisas; outros, nada arrogantes e com os quais tenho muita dificuldade em perceber se aprendi alguma coisa…

    Victor Victor

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  7. LN e Vieira Alves,

    Quando falo em ideias “perversas” refiro-me à tentação de humilhar – é relativamente fácil humilhar, rebaixar um arrogante, não é? (e quantas vezes não resistimos à tentação!) Mas dar-lhe o tal “banho de humildade” é outra coisa. E bem mais difícil.
    Mas estou de acordo com o VA: os professores arrogantes reproduzem-se exponencialmente. Basta ir a algumas das nossas universidades (falo pela minha!) e observar a “fauna” docente no seu habitat natural… ;o))) O problema reside, a meu ver, na estruturação da própria carreira docente – nas atitudes, nos relacionamentos subservientes e acríticos que esta fomenta. Sem uma formação ética inicial sólida, os professores reproduzem quase sempre os modelos dos seus “mestres” / antecessores. E “Mestres” arrogantes tendem a gerar discípulos arrogantes…

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  8. VV:
    pensando nas consequências, para si e para os outros, a arrogância torna impermeável aos outros, porque menos «capazes».
    E, pelo sentido de superioridade, tem pouca ou nenhuma capacidade de reconhecer erros, de inflectir caminhos.

    Trata-se de um excesso na magnificência pessoal – expressa algo do género: “Basto-me, não dependo de ninguém, sou o maior!”

    o facto de se aprender com alguém, tem mais a ver com quem aprende, pode ser? 🙂

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  9. DK, eram «essas»?! OK, perversas sem aspas…
    A tentação de humilhar – de «tirar o tapete»? de provar que, em vez de ser superior, é menos?!
    Também pode depender de outros traços que o arrogante tenha associados (imagine-se que ele é mesmo muito bom?!).

    Mas o banho aparece também em duplo sentido – incluindo o de não deitar tudo fora (a expressão de “não deitar fora a criança com a água do banho”). E aqui, a (minha) tentação é maior…
    🙂

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  10. Tomás de Aquino, muito bem. É sempre um prazer vir cá.

    Isso das arrogancias, humildades, e falsas humildades dá pano pa mangas.
    Não dependerá também da perspectiva de quem “rotula”? Mais do que da própria pessoa, na maior parte das vezes?

    Beijinhos.

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  11. Ora aí está mais uma meia-volta na questão – a da falsa humildade…

    Perspectiva do Outro ou de si?
    Às vezes, é-se muito cego para si próprio. E parece-me mais verdade que se vive com os outros e em relação.
    Acho que estamos a falar de professores e de relação pedagógica…

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