sempre no horizonte: virtudes e pecados…

Eye of Envy

Daqui, seguiram para o Bom para Tutor, os sete pecados mortais dos estudantes. Foi interessante ter encontrado!

E por falar em pecados mortais, faço um retake de uma entrada do Directriz, a propósito da inveja, apenas em alguns excertos:

1. «A inveja é um mecanismo de defesa que pomos em actuação quando nos sentimos diminuídos no confronto com alguém, com aquilo que tem, com o que conseguiu fazer. É uma tentativa desajeitada de recuperar a confiança, a estima de nós próprios, minimizando o outro», escreveu FRANCESCO ALBERONI, no seu “Os Invejosos” (…)

2. Na inveja há um confronto, subsequente a uma necessidade interior de defesa e resposta, com deformação ética. Um confronto interior com terrível dispêndio de energias. É que, afinal, o terreno onde germina a inveja parece ser o mesmo onde germina a competitividade; mas, depois, tudo se tolda: o invejoso perde-se e perde dentro da sujidade da inveja, desviando a energia positiva da competição para o pântano confuso e trapalhão da cólera, do ódio, da tristeza ou da renúncia interiores, iluminado pela frustração e pela mesquinhez disfarçada de distância.

No entanto, esta artificial distância do invejoso em relação ao invejado enfrenta um contradição insanável: a necessidade de julgar o outro. É que quando o invejoso julga, ele está a evitar a auto-humilhação ao invejar, pois nesse momento ela é um recuo estratégico para fugir à evidência que o corrói; e o invejado é, à vista do invejoso, melhor do que ele. (…)

A inveja é, assim, um mal que o invejoso sente que recebeu, mas que ninguém lhe fez, em que a experiência interna do invejoso não se coordena bem com o juízo moral da sociedade sobre as virtualidades das comparações, donde brota a inveja competitiva, ou depressiva, ou obsessiva, ou maldosa, ou avarenta ou iniciadora (…)

o resto, texto inteiro de Paulo H. Pereira Gouveia, ler lá

Noutra perspectiva, vale a pena ler o artigo Gestão educacional: a inveja nas organizações.

(imagem: Eye of Envy)

Solidariedade

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Solidariedade, do latim, origem em solidum, sólido, designa apoio seguro, pela derivação de solus, chão.

Conta-se que um certo monge copista registou que um Bispo proferira um sermão utilizando a forma solitarius, sozinho, que foi transcrita como solidarius, que dá segurança. O erro era de uma letra apenas…

Há quem aponte que o latim jurídico já tinha a expressão in solidum, significando que em determinadas questões todos respondiam ou todos os bens estavam incluídos.

De qualquer forma, o vocábulo fez escala no francês – solidaire – cujo registo mais remoto se coloca no século XVI. Daí à solidariedade foi um pulinho e em 1723 encontramos o primeiro registro de solidarité com o sentido que temos hoje, na língua portuguesa. Atitude de apoio, de tornar sólido, de coesão.

Por mim, sigo a leitura de que a solidariedade é a união de simpatias, interesses ou propósitos entre os membros de um grupo. E, realmente, a solidariedade é escassamente virtuosa… “A solidariedade é um estado de facto antes de ser um dever; depois é um estado de alma (que sentimos ou não), antes de ser uma virtude ou um valor.” (Comte-Sponville)

O estado de facto é pertencer a um conjunto in solido, como se dizia em latim, isto é, “para o todo”. É o facto de uma coesão, de uma interdependência, de uma comunidade de interesses ou de destino. Ser solidários, nesse sentido, é pertencer a um mesmo conjunto e partilhar, consequentemente – quer se queira, quer não, quer se saiba, quer não – uma mesma história.

Como estado de alma, a solidariedade é o sentimento ou a afirmação dessa interdependência.

É óbvio que esses sentimentos são nobres. Mas serão por isso virtudes? Se a solidariedade é comunidade de interesses, das duas uma: ou essa comunidade é real, efectiva, e então ao defender o outro nada mais faço do que defender a mim mesmo; ou essa comunidade é ilusória, formal ou ideal, e então se luto pelo outro já não se trata de solidariedade (pois meu interesse não está em jogo), mas de justiça ou de generosidade.

“Em suma, a solidariedade é demasiado interessada ou demasiado ilusória para ser uma virtude.”

Horizontes, mares e marés

Soul Cages - Piotr Kowalik

 

 

Há dias, repetidas vezes e com os olhos vidrados no vazio de outros horizontes, alguém dizia-me: “A minha alma está parva!

Devo dizer que também parvo fiquei. Já não sei já se a minha alma terá ficado, mas eu fiquei. Ou, pelo menos, certo eu ficou. Como atordoado permaneço. E é desse outro eu que, aqui em amigo e simpático desafio, não consigo conjunturar.

Seguramente é pela minha incompetência que incapaz sou. De inteligir, quão se deve inteligir, que o que nos resta é, afinal, uma singela falácia. Não fosse viver, afinal, sempre menos que uma singela falácia…

Julgo saber o que são mares. Já não sei, todavia, o que mares são. Se horizontes pespegados de reluzentos e encandescentes nasceres, se gotejados de melhores findares.
Não sei também quais. E quais olhos os inexpressam e os exibem.
Ignoro, pois, que também mares me são ou sê-lo-ão. Só posso eu falaciamente parecer estar.

Nos sonhos, que não são os meus, o burburinho das marés não são.
Não são marés, porque sem mar mensurável. Não são ondas, porque nas brumas do que não sei e do que não sei conheçer só tenho irredutíveis certezas. De finíssimo e etéreo pó de prata, marca indelével de que não as tenho.

Como a maresia é ilusão do mar, o mar do meu inexistente reflexo e as suas surdas marés ilusão dos meus tempestuosos silêncios.
Afinal, esse meu eu, parvo ou não, é mesmo só uma falácia, não é?

 

Texto de Directriz – que acompanha as conversas das falácias desde o início – e passamos de náufragos e ilhas, elos e falácias a ESTE horizontes, mares e marés. Grata pela gentileza. E pela adesão ao desafio…

Saúde da Mulher, saúde de todos

Quem levantou o assunto foi LifePassenger, do Cogitare, na sequência do Sociedade Civil.
A vacina do Colo do Útero deve ou não ser comparticipada?

A ponderação de uma vacina integrar o PNV decorre de que critérios? poderia ser a primeira pergunta… E, a seguir, se a comparticipação deve ser total ou parcial…porquê, isto é, com que critérios. Por exemplo, a vacina da Hepatite B tem 40% de comparticipação, salvo para os seguintes casos, em que é gratuita: (1) crianças no 1º ano de vida; (2) jovens dos 10 aos 15; (3) profissionais de saúde; (4) pessoas sujeitas a frequentes transfusões; (4) recém-nascidos com mães portadoras do vírus; (5) outras pessoas em situação de risco.

Hoje, o cancro do colo de útero tem 3,5 de taxa de mortalidade (dados do PNS). A meta para 2010 é de 2.

A vacina contra o Papiloma Vírus Humano (quadrivalente, recombinante, com os tipos 6, 11, 16 e 18 – ou seja, os que se desenvolvem em carcinomas benignos e malignos) recebeu opinião positiva da U.S. Food and Drug Administration (FDA) Vaccines and Related Biological Products Avisory Committee. Foram aprovados os dados dos estudos de fase II e fase III que suportam a eficácia e segurança da vacina para a prevenção do cancro do colo do útero e para a prevenção do cancro da vulva e da vagina e de lesões vaginais pré-cancerosas causados em mulheres pelo Papiloma Vírus Humano (HPV) do tipo 16 e 18. O comité concordou que as conclusões suportam a eficácia e segurança da vacina para a prevenção de outras lesões cervicais, da vulva e vagina causadas pelo HPV de tipos 6, 11, 16 e 18, incluindo as verrugas vaginais (condilomas).

Este é o «melhor estado da arte», portanto. Os factos são:
1) Na Europa, os casos detectados anualmente rondam os 33.500 e 15 mil são fatais, o que equivale à morte de 40 mulheres por dia, ou cerca de duas por hora.
2) Portugal tem a mais alta incidência da Europa deste cancro, cuja principal causa é o vírus HPV, registando 900 novos casos por ano e mais de 300 casos mortais.
3) Estima-se que 70% das pessoas sexualmente activas possam estar expostas ao PVH.

Na Alemanha, a vacinação contra o Papilomavírus Humano é comparticipada na totalidade, desde Dezembro de 2006, por fundos de seguros de saúde. Em Espanha, aqui ao lado, comparticipada a 100%.

Na minha concepção, a saúde é um bem, que nos cabe a todos (sociedade) proteger o melhor que pudermos e se existe uma vacina que reduza seguramente a morbilidade ou a mortalidade, deve ser totalmente comparticipada, particularmente nos grupos etários de maior risco ou em que aprevenção seja mais eficaz. O anúncio, este mês, de comparticipar a 40%, mesmo sendo medida política e melhor que antes, é claramente insuficiente. Naturalmente, a vacinação tem de ser acompanhada por outras medidas – porque a incidência estimada do Cancro do Colo do Útero em Portugal é de mil novos casos por ano e os programas de rastreio devem ser reforçados, independentemente da utilização da vacina. O que não invalida que a vacina devesse ser comparticipada a 100%.

da “geração de 70”: Antero de Quental

Cada homem é o resultado da interacção de circunstâncias na maioria das quais não interferiu.Ninguém escolhe os progenitores, o local onde nasce ou o período da história em que construiu o pensamento e, no entanto, todas estas variáveis têm papel decisivo na evolução de cada vida e condicionam o comportamento individual.
Penso que o nosso poder de decisão, nos diversos momentos em que fazemos as nossas opções, é menor do que gostaríamos que fosse.
O Homem é um ser responsável mas limitado nessa responsabilidade, o que deveria ser assumido na avaliação dos actos individuais e colectivos.

Foi nesta perspectiva que procurei interpretar Antero de Quental, o Homem e o Poeta.

Antero e a circunstância, por Nuno Grande.

perspectivas

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Cidadania, do latim, civitas, cidade. Política, do grego polis, cidade. A participação na vida da cidade, participação cívica.

Que nós somos também o que discutimos e os modos como o fazemos. E desenvolvemo-nos como pessoas, profissionais e cidadãos.

A cidadania, hoje, supõe e requer uma visão participada, activa,  que seja, ao mesmo tempo, inclusiva da diferença.

A enfermagem tem uma dimensão política, uma relação evidente com a cidadania: pelo seu especial lugar na sociedade, pela dignidade da sua finalidade, pelos princípios e valores que a regem, pelo papel de capacitação dos outros.

benchmarking: de novo, às voltas com…

 Benchmarking e Enfermagem não é um tema novo…

Ouvi falar de Benchmarking ainda associado à gestão e ao planeamento estratégico, há uns anos (largos) atrás, em contexto hospitalar. Enquanto processo sistemático de comparação (de produtos, de serviços, de práticas) entre departamentos considerados líderes nas suas áreas.Procura-se o melhor – aliás, conseguir o melhor entre os melhores e forma(s) de oferecer elevada qualidade ao mais baixo custo possível (o que é racional e razoável).Utiliza-se um processo contínuo (e aqui, o primeiro requisito), numa investigação que fornece informações e que é simultaneamente um processo de aprendizagem e uma ferramenta. Requer disciplina e organização, até porque é demorado, tem controle em todas das etapas, desde o planeamento à implementação com elevado senso de competitividade.

Benchmarking pode ser assumido tanto como instrumento como escola: analisar, aprender e adaptar para ser competitivo. Notaria ainda que se trata de um compromisso para a melhoria contínua da qualidade, baseado na reciprocidade, pois os envolvidos partilham e beneficiam dessa partilha de informação.

Vale a pena ler

o texto de JVC, em relação ao ensino clínico e  enfermagem (QAA, UK).

Supervisão clínica – recursos

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Um tema muito actual numa metodologia de portefolio. A usar wikidot, de que já falámos por aqui, em Wiki, relevando que Make a free wiki as easily as a peanut butter sandwich (dizem os senhores da WebTools)

Vale a pena ir ler Supervisão clínica: portefolio, Sidónio Faria

(imagem daqui)

De náufragos e ilhas, elos e falácias

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Depois de ler a Falácia de Robinson Crusoé, que recomendo, parto de um conceito que me é muito caro, a saber, o de autonomia. Poderia trazer comigo Freud, Marx e Nietzsche – os reconhecidos Mestres da Suspeita. Mas simplifiquemos: ao contrário do que o pensamento mitológico diria, o sol, a lua e o universo, na realidade não estão relacionados nem são afectados directamente pela maneira como eu me comporto. E, portanto, cada ser humano (eu, incluída) está isolado no mundo, neste sentido da não afectação do que o circunda.

Todavia, estamos neste planeta, animais entre animais. Quando uso a metáfora do Robinson Crusoé para distinguir ética de moral (com a chegada do Sexta-feira), entendo que ninguém vive sem verso e reverso.

Não é possível entender uma vida humana isolada, num ecosistema completo onde se viva e se mova, onde se seja. Viver e estar com os outros, representa ser influenciado por eles e, reciprocamente, influenciar. A ilusão da autonomia pessoal não é a da falácia de Robinson Crusoé, náufrago sobrevivente sozinho numa ilha – pois que na esfera pública e nas esferas privada e íntima, o que cada um faz tem repercurssões nos outros.

Uma espécie de interconectividade recíproca (será que pode dizer-se assim?).

E o facto de estarmos ligados aos outros, pode constituir uma ameaça à autonomia (aqui, sigo Kant) e deixar prevalecer a heteronomia (quando o que rege a minha conduta vem de fora, de outros). Ora daqui vai um saltinho ao risco ou tentação de colocar os afectos adiante das razões e dos argumentos. E a «regressar» à falácia afectiva. Ou não?!

Convoco, de bom tom e passadeira vermelha, uma das companhias destas conversas de falácias, desde o seu início…

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