pensamento do dia

“A ética não trata de como nos devemos alimentar melhor ou de qual a maneira mais recomendável de nos protegermos do frio ou de como procederemos para passar um rio a vau evitando afogar-nos (…); o que interessa à ética, o que constitui a sua especialidade, é como viver bem a vida humana, a vida que decorre entre seres humanos”

F. Savater

Escrita a várias mãos

O espaço chama-se escritor comunitário.
Tem um convite “a participar no processo de escrita de várias histórias, uma de cada vez.”
Escrito o início do que pode ser um longo ou muito breve texto, o tema inicial são as lendas e as Mouras. ” gostaria de outros contribuíssem semanalmente para a continuação do que foi iniciado”, escreve o autor.

E estabelece o ritmo da Primeira História.

I
Faghira crescera agraciada por Alá, segundo os anciãos da zona. Bela, inteligente, curiosa e bem humorada era a continuação do espírito de seu pai, Shadyah.
Shadyah era um dos chefes árabes na região a que hoje chamamos Alentejo. O território Al-Andaluz encontrava-se em polvorosa. A luta contra os Cristãos não vê descanso. A cruz e o crescendo lutam entre si, pela fé, pela terra, pelo poder.
Faghira crescera no Castelo de Al-Kasar Abu-Danis (Alcácer Do Sal), habituara-se a despedir-se do seu pai temendo pelo seu regresso. Mas Alá é grande, e é pela sua honra que estamos lutando, conforta-se sempre que os seus lábios tocam a face do pai.
Despediu-se dele há duas semanas, mais algumas deverão passar até que tenha notícias ou o veja regressar. Vai passando os dias no Castelo, acompanhada pelas criadas. Acordou cedo, viu o sol nascer, e olhou para o rio. Apeteceu-lhe mergulhar naquelas águas, afinal já faz calor, e está farta de ficar confinada ao castelo.

Para continuar, é ir mesmo lá e.. escrever.

ainda o anteprojecto de graus e diplomas do ensino superior

“O que valem os actuais licenciados do ensino superior português face aos novos graduados pós-processo de Bolonha? A questão preocupa o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) que quer ver com força de lei a distinção entre quem, por exemplo, obteve o bacharelato, numa altura em que o grau é de três anos, e quem vier a ter uma licenciatura de igual duração, a partir do momento em que a harmonização do ensino superior estiver a ser efectuada na Europa. Também o Conselho Coordenador dos Institutos Politécnicos (CCISP) defende que a questão tem de ser regulamentada.”

O documento de parecer do CRUP sobre o anteprojecto de Decreto-Lei sobre graus académicas e diplomas do ensino superior, esclarece que “se a convicção do Governo for de que não haja equivalência dos graus antigos aos novos, tal tem que ficar legalmente expresso com mais força e autoridade“.

E para que cada universidade não resolva o problema à sua maneira, o parecer estabelece ainda que “conviria um quadro legal uno, para que os problemas não ficassem ou ao arbítrio das instituições ou para decisão judicial“.

Luciano Almeida, presidente do CCISP, defende que a distinção entre graus “tem que ser regulamentada sob pena de administrativamente se equipararem pessoas por graus ou por duração de ciclos quando a filosofia de ensino antes e pós Bolonha não é comparável“.

Luciano Almeida defende ainda que deve ser considerado o deferimento tácito quando a Direcção-Geral do Ensino Superior não cumprir prazos de avaliação de novos cursos. O presidente do CCIPS lamenta ainda que o anteprojecto proíba os politécnicos de outorgarem doutoramentos, contrariando o que está actualmente disposto na lei de Bases do Sistema Educativo.

Fonte aqui

»» Livros e leituras

Muito entretida tenho andado com este…
que examina a dinâmica do juízo e o impacto em eventos da sociedade humana, sobretudo aqueles que carecem de direção e do controle da política social. Concentra-se no próprio processo de tomada de decisão – e Hammond afirma que a incerteza raramente pode ser eliminada; assim o erro e a injustiça são inevitáveis. Mas (felizmente!) a capacidade para fazer juízos sábios aumenta à medida que entendemos as armadilhas e a sua origem.

I make great use of distinction between intuitive and analytical cognition. I also depend heavily on the distinction between the coherence theory of truth and the correspondence theory of truth. I do so because of the long-standing recognition of their relation to the way we think and to policy formation. Everyone is familiar with the first, almost no one with the second.” (p.8)

If one is faced with a set of circumstances that demand action, it may be possible to turn to a rule. Rules are of various types – some are better than others – and generally constitue the core of a professional person’s activity. But circumstances that require a social policy – developing a transportation system, a health care sustem, a method for reviving a neighborhood or a city – are not dealt with so easily; there are no proven if-then rules for these circumstances. It is these conditions that involve irreducible uncertainty; it is this conditions that make judgement necessary.” (p. 20)

Judgement under uncertainty is one of the most pervasive and difficult aspectos of life. Uncertainty in the creation of social policy makes error inevitable, and error makes injustice inavoidable.” (p.35)

efeméride do dia

No dia 28 de Janeiro de 1887, iniciou-se a construção da Torre Eiffel – foi lançada a primeira pedra.

Os estudos para a sua construção começaram em 1884 e foi inaugurada em 1889, como a máxima atração da Exposição Universal de Paris.

Era então a construção mais alta do mundo (e foi-o, até 1930, quando se concluíu o Edifício Chrysler, Manhattan) e a primeira grande estrutura metálica da História da Arquitectura – do solo ao topo do mastro, mede 324 metros e possui 1665 degraus.

Em 1916 foi colocada uma antena que permitiu o primeiro serviço de telefone de rádio através do Atlântico, e em 1957 serviu como emissor para a Televisão Francesa.
Recebe anualmente cerca de seis milhões de visitantes… e muda de gestão este ano, 2006.

contra a rotina

(foto: aqui)

Há uns tempos para cá, ando a pegar na caneta com a mão esquerda e a ensaiar… (note-se que sou destra!).
Vou contar porquê!

A neuróbica é a designação criada pelo neurobiólogo Lawrence C. Katz (1956-2005) para um conjunto de exercícios de estimulação cerebral. O objectivo é conseguir um rejuvenescimento celular de certas áreas do cérebro (como o neocórtex e o hipocampo).

O cérebro mantém a capacidade extraordinária de crescer e mudar o padrão nas conexões.
Mas nós, cerca de 80% do tempo, ocupamo-nos com rotinas e essa tendência limita e reduz a capacidade do cérebro. Por isso, tentem contrariar as rotinas, obrigar o cérebro a uma «trabalhinho» adicional.

Exemplos de exercícios de neuróbica:
– use o relógio de pulso no braço direito, se fôr destro (ou vice-versa)
– escove os dentes com a mão contrária da do habitual
– ande pela casa de trás para frente
– vista-se de olhos fechados
– estimule o paladar ao comer coisas diferentes
– veja fotos de cabeça para baixo;
– veja as horas num espelho;
– faça um novo caminho para ir ao trabalho.

A proposta é mudar o comportamento rotineiro. O cérebro agradece…

Para mais:
Katz, Lawrence; Rubin, Manning – Keep Your Brain Alive: 83 Neurobic Exercises to Help Prevent Memory Loss and Increase Mental Fitness.
Trad. Brasileira: Mantenha o seu Cérebro Vivo. Ed. Sextante.
Olfactive behaviours and the brain

leituras na vizinhança

(Escola de Atenas, Rafael)

O Anteprojecto de Decreto-Lei “Graus Académicos e Diplomas do Ensino Superior” já foi aqui comentado, há uns dias. Voltemos ao assunto para linkar JVC, além dos artigos relativos a Bolonha, um apontamento recente sobre O decreto de Bolonha e o Politécnico:

Membros destacados da comunidade do politécnico (PT) têm-se manifestado contra o projecto de decreto por se sentirem maltratados. Afinal, acabam sempre por se referirem à “discriminação” de o PT não poder conferir doutoramentos e de ter de limitar as suas licenciaturas a três anos. Pelo contrário, fora isto, creio que o projecto até é pouco exigente em relação ao PT.

A limitação das licenciaturas do PT a três anos parece-me, em princípio, uma medida bem acertada. Não vou extrapolar para outras áreas, mas conheço bem a da saúde. Com excepção da enfermagem – que para mim é uma formação de tipo universitário, como em outros países – gastar quatro anos a formar um higienista oral, um terapeuta da fala ou um optometrista, actividades essencialmente práticas e técnicas, é um atentado económico aos estudantes e aos contribuintes.
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e um artigo de José Ferreira Gomes

A leitura da proposta deixa uma impressão de grande rigor técnico e introduz um conceito novo no ordenamento português, o de Agência de Acreditação. Isto pressupõe a separação definitiva entre a avaliação e a acreditação, conceitos que estão infelizmente misturados nos ordenamentos jurídicos de alguns países. No quadro português, a avaliação que começara com a melhora como objectivo único, descambara progressivamente para uma posição ambígua contraditória entre a melhora e a “prestação de contas” à sociedade. Finalmente poderão separar-se as águas: A Agência de Acreditação garantirá que são satisfeitos os padrões mínimos exigidos aos graus académicos e, possivelmente, às instituições; a avaliação continuará a ser necessária mas regressa à sua vocação inicial de instrumento para a melhora progressiva da organização e do desempenho das instituições. Fica ainda espaço para uma Agência Financiadora do ensino superior que, tal como a Agência de Acreditação deverão ser responsáveis perante mas independentes do poder político.

Pela primeira vez na história do nosso Ensino Superior, temos uma definição clara dos objectivos dos subsistemas universitário e politécnico e uma entidade, a Agência de Acreditação, com capacidade para velar pela sua aplicação.”
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efeméride e figura do dia

(foto aqui)

A 22 de Janeiro de 1561 nasceu Francis Bacon, filósofo inglês, filho de Sir Nicholas Bacon e de Lady Anne Cooke. Frequentou Cambridge, viveu em Paris e começou carreira como político e jurista, ascendendo aos mais elevados cargos – foi advogado geral em 1613, membro do Conselho particular em 1616, chanceler do reino em 1618. Agraciado por Jaime I com os títulos de Barão de Verulamo e Visconde de S. Albano, foi entretanto acusado de concussão – condenado pelo Parlamento a uma multa avultuada, foi perdoado pelo rei e retirou-se para as suas terras, dedicando-se inteiramente aos estudos. Faleceu em 1626.

Pensador do empirismo, enalteceu a experiência e o método dedutivo. Era seu lema que se vivia melhor na vida oculta – bene vixit qui bene latuit. Desejava ser filósofo e estadista, como Séneca – achava que os estudos não podiam ser um fim ou a sabedoria por si sós, e que o conhecimento não aplicado em acção era uma pálida vaidade académica.

Dedicar-se em demasia aos estudos é indolência; usá-los em demasia como ornamento é afectação; fazer julgamentos seguindo inteiramente as suas regras é o capricho de um scholar.

Algumas palavras suas lembram Sócrates: “sem filosofia, não quero viver“.
Da auto-descrição descreve-se como “um homem naturalmente mais propenso à literatura do que a qualquer outra coisa, e levado por algum destino, contra a inclinação de seu gênio” (isto é caráter), a «vida ativa».”

Os Ensaios (1597-1623) mostram-no indeciso entre dois amores, a política e a filosofia.
No Ensaio sobre a Honra e a Reputação, dá todos os graus de honra a realizações políticas e militares; no ensaio Da Verdade, escreve: “A indagação da verdade, que é namorá-la ou cortejá-la; o conhecimento da verdade, que é o elogio a ela; e a crença na verdade, que é gozá-la, são o bem soberano das naturezas humanas.”

Instauratio Magna seria a sua obra principal, a summa philosophica dos tempos novos, vasta síntese que deveria ter compreendido seis grandes partes das quais terminou apenas duas, deixando sobre o resto esboços e fragmentos.
O que mais interessava a Bacon era a ciência da natureza, e, portanto, o Novum organum deveria conter precisamente as regras para a construção da ciência da natureza. Entendia que o verdadeiro método da indução científica compreende uma parte negativa ou crítica, e uma parte positiva ou construtiva – a parte negativa consiste em alertar a mente contra os erros comuns, quando procura a conquista da ciência verdadeira.

The world’s a bubble and the life of man less than a span.”
Francis Bacon

The mysterious life of Francis Bacon
Sir Francis Bacon
Life of Sir Francis Bacon
Obras:
Essays

New Atlantis