Citação do dia

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“Ao olharmos o caminho que percorremos na vida, ao abarcarmos o seu «erróneo curso labiríntico» (Fausto), não podemos deixar de ver muita felicidade malograda, muita desgraça atraída, e talvez facilmente exageremos nas repreensões a nós mesmos.

O curso da vida não é certamente a nossa obra exclusiva, mas o produto de dois factores, a saber, a série dos acontecimentos e a das nossas decisões. Séries que sempre interagem e se modificam reciprocamente.

Além disso, há o facto de que, em ambas, o nosso horizonte é sempre bastante limitado, na medida em que não podemos predizer com muita antecipação as nossas decisões e muito menos prever os acontecimentos; na verdade, de ambos conhecemos com justeza apenas os acontecimentos e decisões actuais.

Sendo assim, enquanto o nosso alvo está longe, não podemos dirigir-nos directamente para ele, mas só por aproximações e conjecturas, amiúde tendo de bordejar. Tudo o que conseguimos é tomar decisões sempre segundo a medida das circunstâncias presentes, na esperança de fazê-lo bem, para desse modo nos aproximarmos do alvo principal. Na maioria das vezes, portanto, os acontecimentos e as nossas intenções básicas são comparáveis a duas forças que agem em direcções opostas, sendo a diagonal resultante o curso da nossa vida.

Arthur Schopenhauer, ‘Aforismos para a Sabedoria de Vida’

Leituras (de BD): Corto Maltese

“Veneza seria o meu fim!”, exclama o marinheiro de Malta, num dos «contos» mais intimistas de Hugo Pratt. A cidade italiana é lugar de sortilégios, onde existem três lugares mágicos e secretos. Quando os venezianos, e por vezes malteses, se cansam das autoridades, dirigem-se a estes lugares e, abrindo as portas ao fundo desses pátios, partem para países fantásticos e outras histórias – Hugo Pratt localiza-os: “um na rua do Amor dos Amigos; um segundo nas proximidades da ponte das Maravilhas e um terceiro na Calle dei Marrani, perto de San Geremia, no velho Ghetto”.


Assim termina a “Fábula de Veneza”, porventura a mais emblemática das aventuras de Corto Maltese, o herói criado pelo Italiano Hugo Pratt no ano de 1967. “Em todo o seu recorte simultaneamente realista e mágico, este romance gráfico mostra de forma livre e criadora que a aventura é, antes de mais, uma atitude perante a vida e o mundo, e só depois uma deambulação aparentemente arbitrária pelos caminhos do mundo”.


Corto Maltese, o marinheiro nascido em Malta a 10 de Julho de 1887, de mãe cigana de Sevilha e pai marinheiro oriundo da Cornualha, deixa a sua discreta mas inconfundível marca em todas as geografias conhecidas do planeta. Esteve no conflito russo-nipónico nos primeiros anos do século XX (“A Juventude de Corto Maltese”), abriu trilhos na floresta amazónica e foi visto na costa ocidental da América do Sul (ciclos de “Sob o signo do Capricórnio” e “Sempre um pouco mais longe”). Durante a Primeira Guerra Mundial, passou pela Europa e pela África Oriental (ciclos “As Etiópicas” e “As Célticas”), enfrentou os rigores da Sibéria (“Corto Maltese na Sibéria”) e procurou os tesouros de Samarcanda (“A Casa Dourada de Samarcanda”). Atravessou meio mundo para procurar velhos amigos na Argentina (“Tango Argentino”) depois de uma nova incursão pela Veneza dos seus sonhos e mitos (“Fábula de Veneza”) e antes de mergulhar nos mistérios alquímicos (“As Helvéticas”). A sua saga termina em demanda do mítico continente perdido da Atlântida (“Mû”).

http://www.casterman.com/cortomaltese http:/perso.wanadoo.fr/web.on-line/maltese.htm

Citação para uns dias

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“A nossa vida, como repertório de possibilidades, é magnífica, exuberante, superior a todas as históricamente conhecidas. Mas assim como o seu formato é maior, transbordou todos os caminhos, princípios, normas e ideais legados pela tradição. É mais vida que todas as vidas, e por isso mesmo mais problemática. Não pode orientar-se no pretérito. Tem de inventar o seu próprio destino.

Mas agora é preciso completar o diagnóstico. A vida, que é, antes de tudo, o que podemos ser, vida possível, é também, e por isso mesmo, decidir entre as possibilidades o que em efeito vamos ser. Circunstâncias e decisão são os dois elementos radicais de que se compõe a vida. A circunstância – as possibilidades – é o que da nossa vida nos é dado e imposto. Isso constitui o que chamamos o mundo. A vida não elege o seu mundo, mas viver é encontrar-se, imediatamente, em um mundo determinado e insubstituível: neste de agora. O nosso mundo é a dimensão de fatalidade que integra a nossa vida.
Mas esta fatalidade vital não se parece à mecânica. Não somos arremessados para a existência como a bala de um fuzil, cuja trajectória está absolutamente pré-determinada. A fatalidade em que caímos ao cair neste mundo – o mundo é sempre este, este de agora – consiste em todo o contrário. Em vez de impor-nos uma trajetória, impõe-nos várias e, consequentemente, força-nos… a eleger. Surpreendente condição a da nossa vida! Viver é sentir-se fatalmente forçado a exercitar a liberdade, a decidir o que vamos ser neste mundo. Nem num só instante se deixa descansar a nossa actividade de decisão. Inclusivé quando desesperados nos abandonamos ao que queira vir, decidimos não decidir.

É, pois, falso dizer que na vida «decidem as circunstâncias». Pelo contrário: as circunstâncias são o dilema, sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.”

Ortega y Gasset

A Rebelião das Massas

diálogos

Pois é, meu caro amigo, gosto de Hans Jonas. Muito, quer do escrito quer da biografia. É claramente um filósofo do nosso tempo, que olhou adiante. Um dos «filhos de Heidegger» (o título é «Heidegger’s Children»), cruzei muito de perto com ele, que era amigo de Hannah Arendt. Citá-lo é, apenas, abrir uma nesga. E aí estás, alguém muito atento, a escancarar as janelas… Coisas de diálogos, pois então. De travessias pelas palavras e de navegações.

Do enfoque de Hans Jonas: The Phenomenon of Life: Toward a Philosophical Biology (1966), a recensão de Di Paolo; e junto a ligação que uma tese faz do Novum de Jonas à filosofia da educação.

no ouvido: Simply Red

Stars,

Simply Red

Anyone who ever held you
Would tell you the way i’m feeling
Anyone who ever wanted you
Would try to tell you what i feel inside

The only thing i ever wanted
Was the feeling that you ain’t faking
The only one you ever thought about
Wait a minute can’t you see that …

I wanna fall from the stars
Straight into your arms
I… feel you
I hope you comprehend

For the man who tried to hurt you
He’s explaining the way i’m feeling
For all the jealousy i caused you
States the reason why i’m trying to hide

As for all the things you taught me
It sends my future into clearer dimensions
You’ll never know how much you hurt me
Stay a minute can’t you see that …

I wanna fall from the stars
Straight into your arms
I… feel you
I hope you comprehend

Too many hearts are broken
A lover’s promise never came with a maybe
So many words are left unspoken
The silent voices are driving me crazy

As for all the pain you caused me
Making up could never be your intention
You’ll never know how much you hurt me
Stay can’t you see that …

I wanna fall from the stars
Straight into your arms
I… fell you
I hope you comprehend

à nossa volta, o planeta

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(foto aqui)

“.. há uma face recalcada e inquietante nesta estimativa do portento que é o homem, e ninguém pode tomá-lo por destemperada bazófia.

Com todo o seu ilimitado expediente, o homem ainda é pequeno pela medida dos elementos: é precisamente isto que torna tão ousadas as suas incursões neles e permite que esses elementos tolerem o seu atrevimento.”

JONAS, Hans – Ética, medicina e técnica. Edit. Vega, 1994. p.35

É de Kant o imperativo: “Age de tal modo que possas querer também que a tua máxima se converta em lei universal”.

Hans Jonas apresentou imperativos para o novo tipo de acções em reflexão:

“Age de tal modo que os efeitos da tua acção sejam compatíveis com a permanência duma vida humana autêntica na Terra”

ou

“Age de tal modo que os efeitos da tua acção não sejam destrutivos para a futura possibilidade dessa Vida”

ou

“ Inclui na tua eleição presente, como objecto também do teu querer, a futura integridade do Homem”

ou

“Não ponhas em perigo as condições da continuidade indefinida da Humanidade na Terra”

Hans Jonas, Ecoética