Avaliação & perfil de competências do docente


Andava ontem a navegar um pouco, quando encontrei caminhos errantes. E um comentário relativo à avaliação dos professores.

De facto, a verdade é que – há que assumi-lo, como dizia o outro, com frontalidade – todos conhecem professores cuja formação científica é demasiado fraca para darem aulas; e que as formações – devido à crescente redução da exigência científica dos cursos e ao chamado lobby das “pedagógicas”, que esconde um pequeno núcleo de disciplinas importantes e efectivamente formadoras sob uma maré de cadeiras vazias e inúteis – não têm conseguido assegurar a imprescindível qualidade científica e maturidade intelectual dos docentes.”

Ao lado desta questão da avaliação dos docentes e, parece-me, de forma prévia, coloco a definição de um perfil de competências do docente.
Julgo-o do domínio do essencial, em ligação a um paradigma de curriculo baseado em competências e de processo que visa a melhoria contínua da qualidade no ensino.
Estabelecendo ponte entre diversos elementos decorrentes do próprio processo de Bolonha. Ou não?!
Conversamos?!

Re-postando sobre o Dia e a Liberdade



A propósito do Dia:

Trinta e dois anos passaram.

Teremos hoje real consciência do significado?!
Ou, como herdeiros de uma fortuna invisível, malbaratamos esse poder e essa riqueza?!
Talvez seja importante sentarmo-nos a ouvir contar como era e possamos perceber a diferença.
Ah, e o risco! Que o poder existe se as pessoas se reunem e esvai-se quando elas se dispersam…

Vou buscar o que escrevi há um ano, por aqui, a propósito da Liberdade:

Diria Sartre que, queira ou não queira, estou condenada a ser livre.
A liberdade é tida como condição de alguém que está isento de constrangimento – relevo desde já que a ideia de «ser livre» não pode ser nem é absoluta: como nós, a nossa liberdade está situada e delimita-se. Costumo dizer que se não sou imortal nem sei voar, como podia a minha liberdade ser absoluta?

O género mais primário é o da liberdade de movimento, de ir daqui para ali. Mesmo esta, tem limitações evidentes.
Da perspectiva política, a liberdade torna-se possibilidade de um cidadão agir segundo a sua determinação, nos limites da lei (aliás, refere-se a existência de “direitos, liberdade e garantias”).
A liberdade de pensamento não precisa de ser protegida mas a da expressão, de opinião, de consciência, precisam – porque se realizam no exterior de nós, se concretizam no mundo.

Filosoficamente, diria que a liberdade pode ser vista como uma das faces da dignidade humana, se viermos pelo caminho da autonomia (autodeterminação, enquanto faculdade auto-reger-se) e da razão.

Enquanto qualidade da vontade de se guiar por motivos e valores pessoais, noto que se distingue de livre arbítrio. E cedo se relacionou com a responsabilidade, até se tornarem correlativas uma da outra.

Muito se cruza nestas faces da liberdade: falamos de liberdade de investigação, de autonomia do professor, de ideais liberais, de imunidades e direitos, de poder decidir com e sem motivos nas mais diversas esferas da acção humana…
A liberdade do juízo (que depende, por exemplo, do grau de autoconsciência e da visão pessoal) difere, por exemplo, da liberdade política.

Julgo que a liberdade se exerce dentro e fora de nós, em permuta de tipo osmótico. Mas sem relação de implicação. Posso sentir-me livre mas é preciso que exista liberdade política e social para o realizar? ou que esteja disposta a correr os riscos que implica? Na inversa, posso ser pouquíssimo livre, numa sociedade politicamente liberal e democraticamente organizada? Ou não?!… conversamos?!

Ver de outro ângulo


Confesso, sem rebuços, que o título atraiu-me pelo sorriso provocatório que me despertou. Folheei, vi o índice, escolhi trazer.
A leitura é facilitada pelo tom dialogal, e por referências a alguns elementos que são da cultura actual, por exemplos, com nomes de jogos de computador e de role-playing.
A perspectiva proposta é mesmo de ver de outro ângulo o mesmo objecto, permitindo-se discutir a forma como se vêem algumas das ocupações dos jovens (e não tão jovens) da actualidade.

“Defendo a existência de uma “Curva de Sleeper” por partir do pressuposto que no mundo da cultura popular está presente o confronto de forças contraditórias: os apetites neurológicos do cérebro, a economia da insústria cultural, a evolução da plataformas tecnológicas. As formas específicas como estas forças se confrontam têm um papel de terminante no tipo de cultura popular que acabamos por consumir. (…)

Estamos perante uma história de tendências e não de valores absolutos. Não acredito que a maior parte dos produtos da cultura popular dos nossos dias venha a ser um dia estudada a par das obras de Joyce e Chaucer em cursos universitários. Os programas de televisão, os jogos de vídeo e os filmes de que iremos falar nas páginas que se seguem não são, na sua maioria, Grandes Obras de Arte. Mas são mais complexos e subtis do que os programas e jogos que os antecederam. Enquanto a “Curva de Sleeper” traça as variações médias ocorridas na paisagem da cultura popular – e não apenas a complexidade das obras individuais – eu centrei-me num conjunto de exemplos representativos, procurando dessa forma ser mais claro.
(…)
É verdade que pode haver hoje em dia mais “mensagens negativas” no mundo dos media, como afirma o Parents Television Council. Mas essa não é a única forma de avaliar se os programas de televisão e os jogos de vídeo estão a ter ou não um impacto positivo. Tão importante – senão mais importante – é o tipo de raciocínio que temos de fazer para perceber o sentido de uma experiência cultural. É aqui que a “Curva de Sleeper” se torna visível. A cultura popular dos nossos dias pode não estar a mostrar o caminho certo. Mas está a tornar-nos mais inteligentes.”
(p. 22-25)

“Aprender álgebra não tem a ver com a aquisição de uma ferramenta específica; é antes a construção de uma competência mental que poderá ser útil noutro contexto (…)
O mesmo acontece com os jogos. O importante não é o que estamos a pensar enquanto estamos a jogar mas como estamos a pensar. Claro que esta distinção não se aplica apenas aos jogos. John Dewey diz, no seu livro Experience and Education: “Talvez a maior de todas as falácias pedagógicas seja a ideia de que uma pessoa só aprende aquilo que está a estudar em determinado momento. A aprendizagem colateral como via para a formação de atitudes duradouras, de gostos e aversões, pode ser e é muitas vezes mais importante do que uma lição de ortografia, de geografia ou de história. Essas atitudes são fundamentalmente aquilo que vai contar no futuro”. (…)
Todos os benefícios intelectuais dos jogos provêm desta virtude fundamental, pois aprender a pensar significa, em última análise, aprender a tomar as decisões certas: avaliar os dados, analisar as situações, rever os objectivos a longo prazo e depois decidir.” (p. 47)

Muitos dados a fluir nos jogos, como nas situações da vida.
E o desenvolver da habilidade de gerir fluxos de informação, objectivos a médio e longo praxo e quais as melhores estratégias para os alcançar.

Por isso, Steven Johnson defende que o que “realmente fazemos quando estamos a pogar um jogo … tem a ver com encontrar ordem e significado no mundo e tomar decisões que contribuam para criar essa ordem”. (p. 64) Ou seja, trata-se de estimulantes exercícios cognitivos que ajudam a tomar decisões complexas cada vez mais rapidamente.

Conversamos?!

poema de domingo

Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.
Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,

Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés
– O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma …

Alberto Caeiro
O Guardador de Rebanhos

Leituras sobre profissionalidade

Ser professor implica a aprendizagem de uma profissão, caracterizada por saberes muito diversos, que vão do humano e relacional ao cognitivo e prático. Ora, nem sempre, sobretudo nos cursos de formação inicial e continuada e nos documentos reguladores das políticas educacionais, tem existido um olhar abrangente sobre os saberes docentes, privilegiando-se, de acordo com objectivos de formação profissional, os conteúdos ligados à eficiência e à qualidade centrada em resultados. ”
(…)
Assim, o principal desafio que a sociedade do conhecimento nos coloca não é o de seguir a uniformidade da formação docente, a estandardização de competências, mas o de problematizar o docente como pessoa, que luta continuamente pela construção de uma profissionalidade deliberativa, libertando-o dos propósitos das seitas da formação para o desempenho (HARGREAVES, 2004, p. 236), unicamente voltadas para o lado cognitivo da aprendizagem.
Ser professor é admitir que há novos modos de olhar para a riqueza que existe no interior das escolas. Percorrer este caminho é uma luta que professores e formadores têm de travar, sabendo-se que a profissionalidade docente é algo que nos compromete com a qualidade dos processos de aprendizagem dos alunos.

Neste difícil processo de construção da profissionaliadde docente, com contrariedades muito diferentes tanto ao nível das escolas quanto ao nível das administrações educativas, debate-se o ser professor no palco da burocracria das tarefas e da sua “funcionarização”, como se fosse uma actividade susceptível de aparecer num “guia eficiente de formar professores”.
De modo a contrariar esta visão profissionalizante do docente, diremos que o docente tem que ser formado a partir de uma base epistémica comum (JACKSON, 1968), ou de um conhecimento base de ensino (SHULMAN, 1987).

Reconhecer-se-á, de igual modo, que a instituição de ensino superior assume um papel cada vez mais central nesse processo. Todavia, tal natureza exige a consideração da escola como um dos contextos de formação, na medida em que existem saberes, cujo processo aquisitivo se processa a partir de uma prática pedagógica real.

A (difícil) construção da profissionalidade docente
José Augusto Pacheco

(negrito é meu)