O homo sapiens é tido (ou tem-se) como o único ser capaz de pensar racionalmente e o único que tem consciência de tal capacidade. Somos, portanto, animais que sabem que sabem. Este traço, de sermos e nos sabermos dotados de pensamento, permite-nos ligar coisas que parecem separadas, ver o global. Contudo, aprendemos primeiros a separar; ensinam-nos (e ensinamos) o analítico e a compartimentação. As disciplinas são como gavetas, o conhecimento aparece primeiro parcelado.
Curiosamente, numa realidade multidimensional e complexa, a abordagem continua a ser predominantemente mono. Mono disciplinar. Linear, mecânica, disjuntiva. Aquilo a que Morin chamou «o princípio da separação». Quando o que nos rodeia e o que habita em nós é de natureza prismática, complexa.
Apelamos e apelamo-nos à compreensão do mundo e dos Outros, a partir de uma mentalidade (pensamento, pois) que tende a ser parcelar, que soma partes para pretender atingir o todo (que, como é sabido, é maior que a soma das partes). Parece existir uma estranha e inquietante dificuldade de pensar amplo, de desenvolver mentalidade alargada.
Assim, mais parecemos homo sapiens de inteligência míope, de pensamento estreito. Quanto maiores (mais planetários, diria Morin) são os problemas, mais se desenvolve a incapacidade os pensar. Apesar das intenções, continuamos a separar as ciências, as humanidades, as artes. Porque realmente habituados a reduzir, a separar…
Mesmo que essa seja ou tenha sido das primeiras aprendizagens, importa aprender a lidar com o global, o plural, a trama complexa (e não apenas com os fios, o padrão, o tear…). É preciso superar o cartesianismo que teima em persistir. Abrir verdadeiramente espaço ao diverso, à referencialidade múltipla, à pluralidade de linguagens e interpretações. E esta urgência é tanto ética, como política, como cultural, como pedagógica, como, essencialmente, humana.
Para animais que sabem que sabem, às vezes pensamos pouco.