efeméride do dia

Nascido a 23 de Novembro de 1930, Herberto Helder é um poeta que dispensa apresentações.

Recusou o prémio Fernando Pessoa e escolheu viver de modo anónimo. O seu mais recente trabalho, lançado o mês passado, após sete anos sem edições e catorze anos sem inéditos,  “A Faca Não Corta o Fogo – súmula e inédita”, esgotou e não será reeditado, porque HH não reedita.

hh

“isto que às vezes me confere o sagrado, quero eu

dizer: paixão: tirar,

pôr, mudar uma palavra, ou melhor: ficar certo

com a vírgula no meio da luz, dividindo,

erguendo-me do embrulho da carne obsessiva:

que eu habite durante uma espécie de eternidade

o clarão –

isto não o entendo, esta pancada desferida

no máximo concreto: copo,

cigarros,

o livro, e do próprio meu: a ininterrupta

amargura da memória, o tão pouco de

quente respiração – isto

eu não entendo que os dedos sejam arrancados com o copo, que

no caderno e vírgula

fundamental

trave tudo para sempre – e depois é a obra das bruscas

aberturas, a abertura de cada coisa, e cada

minha abertura na abertura

do mundo – (…)”

[04] Lugares do Mundo, Partenon

img_5864

img_5833img_5852

Falar dos gregos ou da cultura da Grécia Antiga é evocar a base da nossa cultura ocidental – influenciaram a linguagem, a política, a educação, a filosofia, a ciência, a tecnologia, a arte.

Conceitos como cidadania e democracia são gregos, ou pelo menos de desenvolvimento pela mão dos gregos. Como afirmou Heidegger, «a filosofia fala grego». O ideal desportivo, das Olimpíadas, é aceso no facho de fogo grego. A ideia da resistência – na batalha de Maratona ou nas Termópilas – associou-se à defesa da liberdade. E se mais exemplos fossem necessários, a geometria de Euclides, o teorema de Tales, o princípio de Arquimedes, os estudos de Hipócrates, as tragédias de Sófocles, a oratória de Demóstenes.

O Partenon, dedicado a Athena Nike, pode assumir-se como exemplo de uma influência que atravessou, para já, vinte e seis séculos. Péricles indicou como supervisor das obras a serem iniciadas na Acrópole em 447 a.C. o escultor Fídias, o arquiteto Ictinus e o construtor Calicrates. Era de Fídias a famosa estátua de Atenas Partenos, esculpida em marfim e ouro.

De majestosa simplicidade, o Partenon não tem artifícios ornamentais.  Há quem aponte fundamentos políticos, religiosos e estéticos na sua construção. Há quem o considere um monumento à razão ou à glória de um povo. Foi templo grego, igreja cristã, mesquita turca. Sobre a colina, visível sobre a muralha protectora, o Partenon permanece – e não ter sido escolhido para a nova lista das sete maravilhas do mundo, não faz com que deixe de ser uma das maravilhas da minha lista pessoal.

Ensaios clínicos

Li primeiro no Público, depois fui procurar detalhes.

7 ensaios clínicos suspensos por morte de voluntários

“Em Portugal, desde o ano passado até agora foram suspensos 11 ensaios: sete por ocorrência de mortes acima do esperado e quatro depois de “acontecimentos adversos graves”. Há outros dois em avaliação por alertas de segurança.

Este ano foram autorizados em Portugal 125 ensaios clínicos, um número que desceu dos 311 do ano passado. Neste momento o Infarmed (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde) estima que em Portugal haja 3795 pessoas a tomar medicamentos em regime experimental – no ano passado o número tinha sido quase igual. O último ensaio clínico a ser suspenso em Portugal por alerta de riscos graves para os doentes foi o medicamento contra a obesidade Acomplia porque, de acordo com dados internacionais, se julga que poderá ter estado na origem do suicídio de doentes.

O Infarmed não nega que haja mortes que poderão ser imputáveis a medicamentos experimentais, mas não as divulga porque nas notificações que recebem não estão separados os casos em que pode existir causa-efeito e situações que nada têm a ver com o fármaco, explica o director do organismo público, Vasco Maria.

Fora as mortes, em 2007 foram notificados 62 “acontecimentos adversos graves” e este ano o número vai em 91. Trata-se de situações que puseram em risco a vida do participante em ensaio clínico, exigindo internamentos ou resultando em deficiências ou incapacidades, diz a legislação. “É o preço que temos que pagar para ter progresso e inovação. É preciso que algumas pessoas corram riscos para toda a sociedade beneficiar”, nota Vasco Maria. “Trabalhamos em áreas de incerteza.”

As principais áreas dos ensaios clínicos em Portugal, que coincidem com as prioridades de investigação da indústria farmacêutica a nível mundial, são a oncologia e o HIV/sida, mas a neurologia (doenças neurodegenerativas) e a oftalmologia estão em crescimento, afirma António Barros Veloso, presidente da Comissão de Ética para a Investigação Clínica, que desde 2004 tem que autorizar a realização de ensaios.

Comissão de Ética para a Investigação Clínica (CEIC)

Relatório CEIC do 2º trimestre de 2008.


Ainda Sebastião de Alba

Ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Podem utilizá-lo nos espelhos
apagar com ele
os barcos de papel dos nossos lagos
podem obrigá-lo a parar
à entrada das casas mais baixas
podem ainda fazer
com que a noite gravite
hoje do mesmo lado
Mas ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Até que o sol degole
o horizonte em que um a um
nos deitam
vendando-nos os olhos

Sebastião Alba

o homem que teria dito: “Aos trinta e três anos, ou pomos a gravata ou resistimos”.

(foto aqui)

apreensões do quotidiano II

Caro amigo, hoje é para si que escrevo. No silêncio do perfil discreto que escolheu, nos pensamentos que imagino lhe turvam a alma, penso em si ao dedilhar estas teclas e endereçar votos de paz.

Talvez a vida não seja justa nem os dias tenham a habilidade de se tornarem fiéis da balança. Afirmava Ricoeur que chegamos à justiça primeiro pela negativa – ou seja, por sentirmos a injustiça, as distribuições desiguais, as quebras de palavra tida por promessa.

Muitas vezes, as coisas não acontecem como pensamos. Nem tem a ver com a capacidade de planear ou de prever. Assuma-se que nos podemos surpreender sempre, em especial quando não esperamos que algo aconteça ou nos aconteça.

Tomo como analogia quando se cuida ser importante para alguém e não se sente retorno em tempo ou palavras, quando os gestos que endereçamos voltam de mãos vazias. Nestas alturas, o desalento ou o desânimo são companheiros tentadores. Pode valer a pena o esforço de se serenizar, de se dar tempo ao tempo.

Há muitas coisas, traços e contornos, que apenas são visíveis no tempo, porque é no tempo que lhes damos consistência e se demonstram. Poupemo-nos, portanto, a juízos rápidos e a conclusões breves, que aumentam o nosso (humano) potencial de engano. Já afirmava Hipócrates que “a vida é breve, a ocasião fugaz, a experiência é vacilante e o julgamento difícil”.

Um molho de campainhas, flores da resiliência e da perseverança.

(foto aqui)

Poesia, sempre

human-face

A Sebastião Alba:

“Eu diria dos apátridas que somos
daquela pátria que nos sobra.
Diria daqueles que por amá-la
proscritos ficaram
proscritos morreram.
Diria do exorcismo de um povo
na beira-mar da aventura,
do medo que em nós germina,
da labareda do sonho,
do entardecer da agonia.
Diria da mordaça,
dos estropiados,
das flores precocemente emurchecidas
Diria também dos vagabundos
que nos calcorrearam
por dentro.
Diria ainda da História e da guerra
ali ao lado.
Náufragos irremediáveis dos mares da China
a que não fomos”

Eduardo Pitta, Poesia Escolhida