contemplar e poetar

O português não gosta de trabalhar. Se há uma tecnologia que trabalhe por ele, ela que avance. Ele tem coisas mais interessantes para fazer como poeta, do que a trabalhar. (…) O português trabalhou e trabalhou e trabalha sempre que for preciso. O que têm feito os emigrantes pelo mundo? Aonde eles vão e é preciso trabalhar, eles trabalham. (…) O português, dentro de determinadas condições, se a vida lhe fosse inteiramente favorável, ele gostaria muito mais de contemplar e poetar do que trabalhar. Mas quando é levado a uma função em tem que trabalhar, ele trabalha.

Agostinho da Silva, in ‘Entrevista’

Pensamento do dia

Aprender a ver – habituar os olhos à calma, à paciência, ao deixar-que-as-coisas-se-aproximem-de-nós; aprender a adiar o juízo, a rodear e a abarcar o caso particular a partir de todos os lados. Este é o primeiro ensino preliminar para o espírito: não reagir imediatamente a um estímulo, mas sim controlar os instintos que põem obstáculos, que isolam. Aprender a ver, tal como eu o entendo, é já quase o que o modo afilosófico de falar denomina vontade forte: o essencial nisto é, precisamente, o poder não «querer», o poder diferir a decisão.

Friedrich Nietzsche, in “Crepúsculo dos Ídolos”

Imagem: Qi Baishi, Autumn Leaves, Dragonfly and Katydid [aqui ]

28º Curso da EECVP – 38 anos depois…

A 17 de dezembro de 1982 concluiu-se o 28º Curso de Enfermagem Geral da (então) Escola de Enfermagem da Cruz Vermelha Portuguesa.

Isto porque o Regulamento das Escolas de Enfermagem da Cruz Vermelha, sob a tutela do Ministério do Exército, data do pós-guerra (Portaria nº 13833, de 7 de fevereiro de 1952), sendo desse ano a uniformização do ensino de enfermagem (Decretos-lei n.º 38:884 e nº 38:885 de 28 de Agosto), que viria ser revisto em 1970 (Portaria 34/70 de 14 de janeiro, aprova o Regulamento Geral das Escolas de Enfermagem). Os exames de estado para todos os cursos de enfermagem foram abolidos em 1974 (pelo Decreto-Lei 274/74 de 22 de Junho). E desde 1976 (decreto nº 401/76 de 26 de maio) que o Instituto Ricardo Jorge passou a emitir a Carta de enfermeiro.

O 1º curso de Enfermagem Geral da CVP iniciou-se em 1951/52, com a duração de três anos, tendo sido equiparado às escolas oficiais em 1955.

Em 1979 foram publicadas (Decreto 98/79 de 6 de Setembro) as condições de admissão ao curso de enfermagem geral – e foi por essa altura que as alunas do 28º Curso fizeram os testes psicotécnicos de acesso ao curso.

A 4 de janeiro de 1980, quando começou o curso, a situação da Escola era relativamente precária, instalada provisoriamente num palacete da Rua Manuel Arriaga, em frente ao Jardim 9 de abril, na Rocha de Conde de Óbidos. Viria a ser deslocada para um edifício perto do Hospital da Cruz Vermelha e, mais tarde, em 2003, mudou para as instalações atuais, na Avenida de Ceuta.

Acabado o curso dia 17, a 29 de dezembro de 1982 iniciei atividade profissional, nos (então) Hospitais Civis de Lisboa, mais concretamente no Hospital de Santa Marta.

Para todos os efeitos, 0 28º Curso celebra 38 anos hoje. Assinalar esta efeméride é endereçar felicitações e evocar memórias com Quem fez esse caminho em conjunto. Parabéns, a nós, do 28º, assim sendo!

Citação do dia

Contudo, embora tendo inesgotável fascinação e constante beleza, as ciências naturais e matemáticas só raramente são de interesse fundamental. Com isso quero dizer que acrescentaram pouco a nosso conhecimento ou controle das possibilidades humanas, que comprovadamente existe mais compreensão da questão do homem em Homero, Shakespeare ou Dostoievski do que em toda neurologia ou estatística. Nenhuma descoberta da genética reduz ou supera o que Proust sabia do fascínio ou do fardo da linhagem; cada vez que Otelo nos recorda a ferrugem do orvalho na lâmina brilhante, sentimos mais da transitória realidade sensorial na qual nossa vida deve transcorrer do que é tarefa ou ambição da física transmitir. Nenhuma sociometria da motivação ou das táticas políticas se compara a Stendhal.

George Steiner