História de enfermagem, tempo da 1ª Guerra

Resumo: No período da Primeira República em Portugal, no decorrer da I Guerra Mundial, implementou-se, com base na experiência de ensino da Casa Pia de Lisboa, a reeducação profissional tendo sido particularmente importante na recuperação de mutilados e estropiados de guerra. Objetivo: Interpretar e analisar quais as práticas das enfermeiras na reeducação profissional de soldados portugueses no Instituto de Reeducação de Mutilados de Guerra de Santa Izabel na Casa Pia de Lisboa durante a I
Guerra Mundial. Metodologia: Recurso ao método histórico para a síntese da narrativa histórica. Resultados: Encontram-se referências importantes nos Anuários da Casa Pia de Lisboa a funções exercidas pelas enfermeiras nomeadamente “a propaganda que as sr.as enfermeiras fizeram junto dos feridos sobre as vantagens da reeducação”; o “tratamento massoterápico”; “os tratamentos pela massagem” e ainda ao “papel importantíssimo” das senhoras (enfermeiras) na “pequena enfermaria” chefiada pelo Dr. V. Pontes onde havia um pequeno serviço de “massotherapia”, uma
oficina de “prothese provisória” e um laboratório de exame de aptidões. Conclusão: Confirma-se que as enfermeiras desempenharam um papel importante nos serviços de “reeducação preparatória” no Instituto de Reeducação de Mutilados de Santa Izabel da Casa Pia de Lisboa, intervindo de forma diferenciadora e eficaz, obtendo um bom reconhecimento.

aqui

Revista Cultura de los Cuidados: https://culturacuidados.ua.es/issue/current

relação entre loucura e pintura contemporânea

Men have called me mad; but the question is not settled whether madness is or is
not the loftiest intelligence.

Edgar Alan Poe

“Desde meados do século XIX que se anuncia uma intensa revolução pictórica. O desejo de romper com os valores da Academia tornou possível uma transformação profunda no olhar sobre a realidade, desencadeando uma série de movimentos que decompuseram os modelos de representação tradicionais e afirmaram uma nova visão do mundo. Entendida, até então, como estática e objectiva, a realidade passa a ser encarada de uma forma dinâmica, desdobrando-se numa diversidade de perspectivas. O papel do artista altera-se também: o objecto de representação depende agora da sua óptica subjectiva e não apenas de referências externas. As realidades exterior e interior tornam-se inter-comunicantes e os contornos que as delimitam cada vez mais subtis…”

“Este trabalho questiona a relação entre loucura e pintura contemporânea, com particular incidência nas concepções teóricas e experiências museológicas que se desenvolveram, em torno deste tema, na primeira metade do século XX. A problemática assim definida insere-se, todavia, numa paisagem mais vasta da história da arte. É indispensável remontar a meados do século XIX para tentar compreender, através de obras exemplares, a tendência para a “interiorização do olhar” no limiar da
modernidade. Entendo por “interiorização do olhar” o processo gradual de subjectivação da percepção do mundo. As primeiras etapas deste processo consistem no questionamento das formas convencionais de representação da realidade exterior,
exemplarmente ilustrado pela pintura de Gustave Courbet e Édouard Manet. Num segundo momento, assistimos à exploração de dimensões profundas da vida psíquica,
associadas no início do século XX à noção de inconsciente. Os cruzamentos entre arte e psicologia revelaram-se particularmente fecundos a partir deste momento, motivando o surgimento de novas ideias em ambos os domínios. O processo criativo de muitos artistas foi influenciado pelas descobertas da psicologia que, por seu turno, encontrou na arte um instrumento fundamental de compreensão do psíquico. O tema da loucura na pintura contemporânea insere-se neste contexto. Ele é, no entanto, de tal modo amplo e controverso que se torna imprescindível delinear fronteiras que circunscrevam os limites da reflexão. Estas fronteiras são inevitavelmente provisórias. Elas definem o estado actual do nosso entendimento sobre o tema”…

Sara Gomes da Silva. A loucura na pintura contemporânea: a descoberta do mundo interior. Tese de mestrado, Arte, Património e Teoria do Restauro, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, 2013. p. 1-2. https://repositorio.ul.pt/handle/10451/10130. Resumo: “A reflexão desenvolvida neste trabalho dá particular atenção à emergência histórica da relação entre arte e loucura. O processo de interiorização do olhar do artista contemporâneo constitui o contexto cultural mais abrangente em que esta problemática se inscreve. Desta perspectiva, a descoberta do inconsciente desempenha um papel determinante. A relação entre criação artística e inconsciente suscitou o interesse de grandes figuras da psicologia moderna (Freud e Jung) e concretizou-se em textos da maior importância. Mas são contributos teóricos como os de Prinzhorn, Dubuffet, Osório César e Nise da Silveira que merecem maior destaque neste trabalho. Eles tornaram possível novas formas de reflexão sobre o espaço museológico, abrindo-o às colecções reunidas por estes autores. Debruçamo-nos, por fim, sobre a obra de Pollack – testemunho de uma singular viagem ao inconsciente. Ela constitui uma ilustração privilegiada da importância das relações entre criatividade artística e loucura na história da arte.”

“duas dúzias de rapazes”

“em 1933 a Sociedade Nacional de Belas Artes nomeia uma Comissão de defesa dos interesses dos artistas, da qual faziam parte, o poeta Luiz Teixeira, o arquitecto Jorge
Segurado e o escultor Diogo de Macedo. No documento que redigiram chamavam a atenção para a situação de que havia artistas a viverem na miséria e um dos problemas que afligia mais os homens e as mulheres das artes em Portugal era a falta de educação e de cultura artística. Para colmatar essa falha propunham uma série de medidas: a começar pelo ensino do desenho na escola primária; conceder trabalho aos pintores e escultores; aumentar as verbas a aplicar na aquisição de obras de arte para os museus do Estado; criação de um Museu do Ultramar, estabelecendo desta forma o intercâmbio de artistas plásticos; construção de ateliers e habitações económicas de renda baixa para os artistas; aproveitamento dos artistas nas artes gráficas. Com António Ferro à frente do Secretariado de Propaganda Nacional, criado precisamente nesse ano, define-se um programa estético que tentava conciliar produção artística e acção de propaganda política. (…) Em seu entender, deve dar-se primazia à arte viva do nosso tempo, fazendo um apelo a quem tem o poder:
Há aí duas dúzias de rapazes, cheios de talento e mocidade, que esperam, ansiosamente, para serem úteis ao seu País, que o Estado se resolva a olhar para eles (…).”[1]
Salazar apela à paciência dos artistas, dando a ideia de que algo estava prestes a mudar. Em 1935 são instituídas as Exposições de Arte Moderna levadas a cabo pelo Secretariado de Propaganda Nacional, liderado por António Ferro. No discurso da I Exposição, Ferro nomeia as acções levadas a cabo pelo Secretariado, nomeadamente as encomendas feitas aos artistas, bem como todas as iniciativas do organismo, sem deixar de lançar novos desafios, nomeadamente a criação dos prémios Columbano e Sousa Cardoso. O dinamismo e a proximidade com o poder que António Ferro tinha, levam Francisco Franco a afirmar que o artista português não estava divorciado da
política nacional: “É a primeira vez que em Portugal os intelectuais mandam pela voz do Sr. Dr. Oliveira Salazar”. Opinião partilhada por Almada Negreiros que num elogio a António Ferro refere que:
Mais do que com júbilo, é com grande respeito que vejo pela primeira vez na minha terraos poderes públicos ao lado da arte mais nova de Portugal.” [2]
E no caso de Almada mal sabia ele que, anos mais tarde, já na década de 40, ao realizar as pinturas para a Gare Marítima de Alcântara, seria a este homem que deveria a efectiva realização da obra. Quando Salazar questiona Ferro sobre a obra que Almada está a criar, este diz-lhe que o trabalho está magnífico mas pergunta porque não vai vê-lo com os seus olhos ao que o Presidente do Conselho responde: “Não, prefiro que vá você vê-los com olhos de ver, com imparcialidade, porque eu de pintura confesso que não percebo muito, e ainda menos de pintura moderna.”[3]

Os Anos 30 e o início da actividade escultórica em Portugal. Rita Mega, 2012.

  • [1] Entrevistas de António Ferro a Salazar, p. 57. [2] António Quadros, O Primeiro Modernismo Português – Vanguarda e Tradição, p. 332. [3] Fernanda de Castro, Ao Fim da Memória II (1939-1987), p. 258

State of Health, Portugal, 2023

Relatório curto (28 páginas), com uma infografia razoável, e highlights.

Portugal has fewer nurses than most other EU countries. 

Despite a more than 15 % increase in the number of professionally active nurses in Portugal over the past five years, the density of nurses in 2021 was still 13 % lower than the EU average, at 7.4 nurses per 1 000 population. This partly reflects comparatively low inflows of nursing graduates and nursing staff attrition challenges (see Section 5.3). The distribution of health professionals across the country is uneven, with 70 % of them concentrated in the Lisbon and North Regions.

continuar a ler o relatório

Nuffield’s horizon

We created our first ‘What’s on the horizon?’ interactive infographic in 2019, and because of the positive reception, we now publish one annually. See below for our 2023 infographic. A text-only version of the infographic is available (also available as a word document).

A talhe de foice, os horizontes anteriores, de 2019

de 2020

ler aqui Horizon scanning

Raquel Varela e Roberto Della Santa, Breve História de Portugal – A Era Contemporânea (1807-2020)

‘Como é que vamos sair daqui?’. É a resposta a esta pergunta que Raquel Varela e Roberto Della Santa pretendem responder com o lançamento do livro Breve História de Portugal – A Era Contemporânea (1807-2020), lembrando que ‘o passado das classes trabalhadoras diz-nos sobre diversos equívocos, de regimes feitos em seu nome e contra as mesmas, mas também sobre soluções, que hoje tantos tomam como impossíveis ou inimagináveis e há 150 anos atrás eram óbvias’.

Os dois autores na sua obra prometem repor ‘duzentos anos da luta de classes em Portugal no seu devido lugar’. E prometem ‘mostrar a partir de baixo’, esse registo que ‘abrange desde o início da organização dos trabalhadores, nos primeiros anos do século XIX, até à resistência atual à devastação neoliberal’. Raquel Varela (historiadora) e Roberto Della Santa (cientista social) admitem que, numa altura em que se comemoram os 50 anos da Revolução dos Cravos, ‘é preciso conhecer a própria história’. Na entrevista reconhecem que só conhecendo o passado é possível alterar o futuro.

Raquel Varela: Contestamos a ideia de que o Estado existe há 800 anos. O Estado nação português é uma construção fundamentalmente do século XIX e XX e das mais tardias em toda a Europa. Por exemplo, coisas elementares da Constituição moderna – como um homem um voto e a existência de partidos políticos modernos – são nada mais nada menos do que da década de 70 do século XX. Não são os liberais que instituem o sufrágio universal, como também não abrem portas aos partidos políticos modernos. Já para não falar de outras coisas elementares que só são feitas com o 25 de Abril, como o facto de as pessoas só terem visto pela primeira vez na vida um médico, de terem acesso à alfabetização e ao descanso ao fim de semana. São conquistas que surgem em Portugal 150 anos depois das revoluções burguesas. Ou seja, tivemos uma burguesia com alguma iniciativa na sua formação inicial, mas depois acreditamos que se tornou numa burguesia essencialmente dependente, cuja política central é a dos baixos salários. Atualmente a extensão do horário de trabalho em alguns casos é superior ao século XIX se contarmos com os tempos de deslocação. Por outro lado, Portugal é um dos países do mundo cujo peso relativo da emigração é maior. É uma população que é sistematicamente expulsa, mas é edulcorado com um nacionalismo que fala sobre a diáspora. As pessoas não vão porque querem. Há uma franja pequeníssima que sim, mas a maioria vai porque não tem condições de vida, vai por necessidade.

ler a entrevista completa aqui