em jeito de balanço…

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Passou um ano. Tempo. Mas não apenas. Oportunidades de descobrir coisas – sobre mim, os outros, a vida, os sentidos das coisas. De caminhar e fazer-se nos caminhos, que a si mesmo se constrói quando se caminha. Nada de extraordinário, dir-se-ia….

 

Li menos do que desejava ainda que fosse o mais que consegui, mesmo nos improváveis tempos de espera. Conduzi uns milhares de quilómetros, na travessia quase diária da península, não como um andarilho medieval mas quase com o mesmo espírito. Dei aulas, recebi aulas, lições de vida e de ser-se pessoa. Escavei mais uns troços de túneis em áreas de conhecimento e colhi mais indagações do que respostas. Nada de extraordinário, dir-se-ia….

 

Trabalhei em grupos, uns de tarefa, outros de missão, uns de dever, outros de opção – em todos, procurámos o estranho equilíbrio das vontades e a difícil tarefa de encontrar e concertar consensos – e sempre constatei como é mais simples e menos frutuoso passear sozinho. Caminhei em vales e planícies muito menos que em escalada de montanha. Conheci gentes com outros usos e línguas, e espantei-me sempre, por mais preparada que me julgasse para a diversidade. Tomei decisões difíceis e fáceis, fiz-me à Vida que ela não se deixa em mãos alheias. Nada de extraordinário, dir-se-ia…

 

Passou um ano. Tempo. Mas não apenas. Um dia de cada vez, enquanto ocasião única de vida e de existência. De ver crescer os meus filhos, de rir junto e reconhecer o redimensionamento que eles, pequenos e mágicos aventureiros, podem fazer de cada coisa. De zelar pelos que se amam, de se deixar cuidar pelos que se preocupam. De procurar a metamorfose do dissabor em ganho, da frustração em aprendizagem, da tristeza em alegria. São quase processos alquímícos! Lidei com remorsos e naufrágios, com virar de mesa e pontapés nas cadeiras. Vi mal, e às vezes nem tanto, o melífluo e o mesquinho que escolho desconsiderar – tem alturas em que a miopia pode ser (auto)protectora. Nada de extraordinário, dir-se-ia…

Descobri umas quantas pérolas e caí nuns quantos buracos. Ri e chorei, em visível desproporção que o riso e o entusiasmo cedem pouco espaço. Não posso queixar-me de não ganhar a lotaria, pois não joguei – a Sorte, Fado ou Moira vêm com cada dia. Ganhei gente, perdi gente – e com as pessoas que perdi, os mortos que representam o caminho que a todos espera, posso não ter ficado mais sábia mas fiquei claramente mais consciente da finitude. Nada de extraordinário, dir-se-ia….

Passou um ano. O extraordinário é mesmo tê-lo vivido. E com o muito que se aprendeu, restarem infinitos por explorar. Vai chegar um Novo Ano Novo. E nada de cair na tentação de tomar decisões no início do ano – se eram importantes, já deviam ter sido tomadas; se não são, esperam além destes dias de travessia. Que 2008 seja um Bom Ano, pródigo em paz e em alegria, saudável e profícuo. Feliz Ano Novo, terra ignota para muitos caminhos e não menos conversas…

senhoras e senhores d’aqui….

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Há companhias com que se aprende e se ganha, como as d(est)a blogoesfera. Blogues de magníficas grafias e derivações, raízes e desenvolvimentos.

Aos que mais companhia me fizeram ou lhes fiz, com ou sem comentários, deixo votos de um 2008 cheio de inspiração e de alegria.

Angel of LifeCogitare –Confidências de 1 enfermeiro – Crónicas de uma enfermeira –Criancices –Detalhes e Pormenores –Em Casa da Ena Rot –Enfermagem em Grupos de Ajuda Mútua – Enfermagem XXI –Enfermagem.com –Espiritualidade e Saúde –Fórum Enfermagem – Infirmus -Nurse Anesthesist –ONR –Psikiatrices –Um dia virei enfermeira –Vida de Enfermeira

A destreza das dúvidasAbnoxioAragemArdósia AzulAprender e EnsinarBiosofiaBlog UECaminhos errantesCampo lavradoCo-LaborCurriculo & CulturaDa critica da educação à educação crí­ticaEducar para a saúdeEscolaridades e outrosFio finoInquietações PedagógicasJardim das CoresMemória FlutuanteMemórias soltas de ProfMicómioOutro OlharOutro EspaçoOs (In)DocentesPaixão da EducaçãoPolikê?Que Universidade?Reflexão entre professoresReformar o Ensino SuperiorTempo de TeiaUniverCidade

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poesia para um Novo Ano … ou Sisifo

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Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nese caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.

Miguel Torga

receita de natal

 

Primeiro, ficar parado
durante um momento, de pé
ou sentado, numa sala ou mesmo
noutra dependência do lar.
Depois preparar
os olhos, as mãos, a memória
e outros utensílios indispensáveis. A seguir
começar a reunir
coisas, por ordem bem do interior
do coração e do pensamento:
a ternura dos avós, uma mancheia;
rostos de primos distantes, uma pitada;
sons de sinos ao longe, quanto baste;
a recordação duma rua, uns bocadinhos
um velho livro de quadradinhos
duas angústia mais tardias, alguns restos de azevias,
a lembrança de vizinhos ainda vivos mas ausentes
e de uns já passados.
Quatro beijos de seres amados ou de parentes
um cachecol de boa lã cinzenta aos quadrados
e um pouco de azeite puro e fresco
igual ao que a mãe usava noutro tempo saudoso.
Mexe-se bem, leva-se ao forno
e fica pronto e saboroso
– mesmo que, nostálgica, se solte uma pequena lágrima.

Nicolau Saião

(foto aqui)

poesia, sempre…

Pastoral

 

Não há, não,
duas folhas iguais em toda a criação.

Ou nervura a menos, ou célula a mais,
não há de certeza, duas folhas iguais.

Limbo, todas têm,
que é próprio das folhas;
pecíolo algumas;
baínha nem todas.
Umas são fendidas,
crenadas, lobadas,
inteiras, partidas,
singelas, dobradas.

Outras acerosas,
redondas, agudas,
macias, viscosas,
fibrosas, carnudas.

Nas formas presentes,
nos actos distantes,
mesmo semelhantes
são sempre diferentes.

Umas vão e caem no charco cinzento,
e lançam apelo nas ondas que fazem;
outras vão e jazem
sem mais movimento.
Mas outras não jazem,
nem caem, nem gritam,
apenas volitam
nas dobras do vento.

É dessas que eu sou.

António Gedeão

nº 1 on-Line

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Lançado nº 1 da WebNurse Magazine.

Certa de que é importante existirem revistas eletrónicas que divulguem trabalhos de investigação, felicito a Comissão Científica. E agradeço a oportunidade de escrever sobre uma concepção eclética da investigação em enfermagem.

Trata-se, naturalmente, da minha concepção, com a dupla convicção de que existe espaço para todas as metodologias e para todas as tendências epistemológicas. Tem cabimento articular com diversas concepções e teorias de enfermagem bem como com as diversas correntes metodológicas, ganhos e características de diferentes tipos de estudo.

Muito território por explorar. Onde todos – os que produzimos, colaboramos, consumimos, disseminamos resultados – somos chamados a ter um papel, que nunca é secundário.

Bom trabalho, à equipa da WebNurse Magazine.

memórias…

Passando pelas ruas da cidade, começam a notar-se os penteados da época festiva. Não resisti a ir buscar Tolentino….

Chaves na mão, melena desgrenhada
Batendo o pé na casa a mãe ordena
Que o furtado colchão, fofo e de pena
Lho ponha ali a filha ou a criada.

A filha, moça esbelta e aperaltada
Lhe diz com a doce voz que o ar serena:
Sumiu-lhe o colchão? É forte pena!
Olhe, não fique a casa arruinada!

Tu respondes-me assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que por ter pai embarcado
Já a mãe não tem mãos? – E dizendo isto

Arremete-lhe à cara e ao penteado.
Eis se não quando, caso nunca visto
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado.

(Nicolau Tolentino)

(imagem: Nefertiti)