O prazer do suficiente

Imagem aqui

O filósofo chinês LaoZi, autor do Tao te ching, escreveu: “É rico aquele que sabe que tem o suficiente”.
Suficiente — conceito escorregadio esse. O que é suficiente para um é pouco para outro e demais para um terceiro. A maioria de nós concorda que tem comida, água, roupas e refúgio suficientes para atender às necessidades básicas. E todos que estão lendo este livro provavelmente acham que têm coisas suficientes. E por que sentimos a necessidade de comprar e possuir mais? Vamos investigar a palavra “suficiente” com um pouco mais de atenção. O dicionário a define como “adequado para a vontade ou a necessidade; o bastante para o propósito ou para satisfazer o desejo”. Ah, aí está o problema: ainda que tenhamos satisfeito nossas necessidades, resta a questão dos desejos e vontades. Para sentirmos o prazer do “suficiente”, é nele que precisamos focar. No fundo, é bem simples: felicidade é querer aquilo que se tem.

Francine Jay, Menos é mais, p. 41

Representação da saúde como condição itinerante

A Saúde dos Portugueses – Um BI em Nome Próprio, 2021: https://www.flipsnack.com/mediscatalogue/paper-completo/full-view.html

“Um equívoco frequente é considerar que as mudanças de hábitos ou comportamentos ocorrem quando as pessoas estão informadas, reduzindo as recomendações à informação. A informação é, de facto, importante, mas não suficiente. Como em todas as dimensões da vida, também em matéria de saúde a acção humana ultrapassa o acto racional ou voluntário. Não existe, tão pouco, uma realidade objectiva que seja, por si só, estruturante do comportamento dos indivíduos. É a realidade na forma como é capturada por cada pessoa que serve de base aos comportamentos. Nesse sentido, importa perceber como é vivenciado e percebido o repertório das experiências humanas que talham a visão de saúde, com as contradições e incoerências que o subjectivam e enriquecem.”

Uma condição itinerante

https://www.flipsnack.com/mediscatalogue/paper-completo/full-view.html

Metáfora de farol

Farol do Cabo Carvoeiro (foto LN)

Os faróis sempre me fascinavam. Houve alturas em que seguia junto à costa para os ver ou desviava uns quilómetros para ir lá ao pé. E pensava quantas pessoas e barcos teriam salvo, por alertarem da proximidade de terra. Ou como se podia metaforizar, a partir da ideia da luz à distância para auxílio à navegação, aviso sobre entrada de portos, presença de recifes, de bancos de areia e obstáculos perigosos. Podíamos dizer que os faróis estão para os navegadores como … (quer acabar a frase?!)

Natal, e não dezembro. David Mourão-Ferreira

Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido…
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave…
Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.

David Mourão-Ferreira, Obra Poética

Liberdade, em Ricoeur

O ponto de partida de uma ética que é, à primeira vista, oposto à ideia de lei, não pode encontrar-se a não ser na noção de liberdade. Mas se a liberdade se põe, ela não se possui. É por isso que é preciso recorrer a toda uma rede de noções através das quais a reflexão sobre a liberdade e a tomada de posse da liberdade se tornam possíveis. Direi que a liberdade não se pode atestar senão nas obras nas quais se objectiva. Ela é, enquanto tal, o X da filosofia kantiana. Não posso ver a minha liberdade, não posso sequer provar que sou livre, só posso pôr-me [me poser] e crer-me livre. É portanto a ausência de uma visão, que me daria a certeza de um facto, que explica que a liberdade só se pode atestar através das suas obras.
Portanto só posso partir da crença de que posso e que sou aquilo que posso, que posso aquilo que sou. É essa correlação inicial entre uma crença e um acto (um acto que se põe, uma crença que é a luz de um acto) que, para mim, é o único ponto de partida possível de uma ética.

Ricoeur, O problema do fundamento da moral. https://ricoeur.pitt.edu/ojs/index.php/ricoeur/article/view/110

Aliança para a Igualdade nas TIC

noticia aqui

Portugal formaliza Aliança para a Igualdade nas Tecnologias de Informação e Comunicação

A criação da Aliança materializa a formalização de um compromisso entre todas as entidades, servindo de agregador deste tema e da necessidade da igualdade de género ser transversal a toda a transição digital.

A Aliança foi formalizada entre a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG), que irá coordenar, em articulação com a Associação Portuguesa para a Diversidade e Inclusão – APPDI e as restantes entidades parceiras, desde empresas, universidades e municípios.
O objetivo continua a ser o de promover a inclusão digital das mulheres e da respetiva participação nas engenharias e nas tecnologias, consolidando e estruturando formas de cooperação sistemáticas e de divulgação do trabalho realizado pelas entidades parceiras.

On the Possibility of Ethical Expertise

Document is being loaded ...
Michael Davis https://doi.org/10.5840/ijap201561738

After distinguishing between moral and ethical expertise, I divide ethical expertise into five categories: knowledge of fact (propositions); knowledge of procedure (rules, commands, or guidelines); easily derivable knowledge of fact or procedure; skill (tacit knowledge or know-how); and judgment (the ability to evaluate a situation, design a reasonable course of action, and act accordingly more often than would an algorithm, computer, or clerk with a book of rules).

Core Ethics for Health Professionals

Codes of conduct (also “codes of ethics”) for professionals includes several ethical components. Doctors, veterinarians, nurses, counselors, lawyers, epidemiologists, ecologists, and industrial hygienists are just a small sample of professions that have published codes of conduct. The codes are a form of contract ethics, which means that if they are not complied with, sanctions including loss of professional identity may be applied. The following are some basic ethics-related elements of the codes of conduct.
Duty: Fulfilling one’s professional obligations is the primary ethical mandate.
Qualifications: Training, experience, and sometimes licensure insure competence.
Service: Service recipients may include clients, research subjects, employers, the profession, the society, and the environment.
Honesty: “The truth, the whole truth, and nothing but the truth” without bias
captures the idea.
Integrity: One must protect the value and dignity of the profession and avoid
disrespectful behaviors, such as dishonesty and harassment.
Confidentiality: Except where illegality or safety is at stake, privacy must be
respected and protected for individuals, groups, employers, and institutions.
An excellent extensive collection of codes of conduct is maintained by the Center for the Study of Ethics in the Professions at the Illinois Institute of Technology (IIT). IIT’s collection of nearly 2500 codes is available online: http://ethics.iit.edu.

“Who’s in charge?”, Gazzaniga

Consciousness takes time, which we don’t always have. Our ancestors were
those who were fast in life-threatening and competitive situations; the slow ones weren’t around long enough to reproduce and didn’t become ancestors. It is easy to show the difference in timing between automatic responses and those where consciousness intervenes. If I put you in front of a screen and have you push a button when a light flashes on, after a few trials you will be able to do this in about 220 milliseconds. If I ask you to slow this down just a tad, say to 240 or 250 milliseconds, you wouldn’t be able to do it. Your speed would be more than 50 percent slower, it would drop to about 550 milliseconds. Once you put consciousness in the loop, your conscious self-monitoring of the speed takes longer, because consciousness works at a slower base speed. This is something that you may already be familiar with. Remember practicing the piano, or any other instrument, and memorizing a piece? Once you had practiced a piece, your fingers could really fly until you made a mistake and consciously tried to correct what you did wrong. Then, you could barely even remember what note was next. You were better off starting all over and hoping that your fingers would make it past the rough patch on their own. This is why good teachers warn their students not to stop when they make a mistake while playing in a recital, just keep on going, keep that automatic playing automatic. The same is true in sports. Don’t think about that free throw, just plop it in as you have the hundreds of times in practice! “Choking” happens when consciousness steps into the play and throws the timing off.
Natural selection pushes for nonconscious processes. Fast and automatic is the
ticket for success. Conscious processes are expensive: They require not only a
lot of time, but also a lot of memory. Unconscious processes, on the other hand, are fast and rule-driven.

Gazzaniga, The Unconscious Iceberg, In Who’s in charge?

Apostilha de investigação: da origem à disseminação do conhecimento

Nunes, L. & Poeira, A.F. (2021). Apostilha de Investigação. I. Da origem à disseminação do conhecimento. Departamento de Enfermagem da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal. ISBN 978-989-54837-5-4

Disponível em https://comum.rcaap.pt/handle/10400.26/36172

Citação do dia

Hoje passou-me esta citação debaixo dos olhos

A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse: “Não há mais o que ver”, sabia que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.
José Saramago, Viagem a Portugal, 2016

Participe na escolha a palavra do ano

https://www.palavradoano.pt/

A PALAVRA DO ANO® é uma iniciativa da Porto Editora que tem como principal objetivo sublinhar a riqueza lexical e o dinamismo criativo da língua portuguesa, património vivo e precioso de todos os que nela se expressam, acentuando, assim, a importância das palavras e dos seus significados na produção individual e social dos sentidos com que vamos interpretando e construindo a própria vida.