Poesia, Álvaro de Campos

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser…

Alvaro de Campos

“Portugal: o país que queremos ser”

No dia 3 de Novembro a Comissão Nacional Justiça e Paz promove a sua conferência anual. Tendo como tema «Portugal: o país que queremos ser», procurará promover uma reflexão sobre o País, no quadro do mundo globalizado.

Estamos perante desafios importantes da nossa cultura e identidade; num tempo de crise, que também é de oportunidades para repensar modelos de vida e de felicidade individuais e coletivos, e rever instituições, com vista a torná-las mais justas e mais humanas. É tarefa que deve ser participada e que, por isso, impõe de forma clara que cada um se reconheça artífice da construção coletiva.

 

“A intervenção social no Ensino Superior”

Além de relevante, vai sendo cada vez mais patente a responsabilidade e a intervenção social das Instituições de Ensino Superior.

Um dos aspetos que continua a parecer-me precário é a repercurssão no curriculum ou o modo como (além de ser em suplemento ao diploma) se registam as atividades realizadas pelos estudantes (e se creditam ECTS).

Conhecer para Intervir é uma iniciativa da UL, e chamou-me a atenção o texto de apresentação:

O conceito de intervenção social pode ser abordado de diversas formas e sob a alçada de diversas disciplinas entrecruzadas.

Como ponto de partida destas Jornadas, fizemos um levantamento do que de bom se faz na Universidade de Lisboa em termos de “intervenção social”, entendida no seu sentido mais amplo, abrangendo, assim, atividades de associativismo, voluntariado, culturais e desportivas, apoio comunitário, sustentabilidade….

Elaborámos um documento de apoio, inventariando as atividades desenvolvidas na UL, não por unidade orgânica (UO), como é mais usual, mas por grande categoria de intervenção: voluntariado, apoio comunitário, sustentabilidade, associativismo, atividades culturais e desportivas. Interessou-nos obter uma panorâmica abrangente do que se faz e identificar os contactos, no caso de haver motivação para futuras colaborações. Para que estas atividades se autonomizassem, pedimos que lhes fosse atribuído um logotipo específico e que, na ficha explicativa, viesse explicitado, de forma sintética, o seu objetivo e funções. Nas visitas de promoção que fizemos a todas as unidades orgânicas, pedimos igualmente que fosse escolhida uma “atividade estrela”, a fim de ser apresentada nas Jornadas.

Previmos que, nos painéis das Jornadas, interviessem representantes do governo das UO, relatando formas institucionais de apoio e estímulo das atividades de intervenção social, eventuais obstáculos e formas de os superar; e participantes / dinamizadores das atividades, alunos e professores e pessoal não docente, descrevendo as práticas e problematizando a respetiva participação e capacidade de mobilização.

Pensamos que a temática da intervenção social, abordada por uma instituição de ensino superior, deveria ser configurada também do ponto de vista do currículo da formação, da investigação e da validação de aprendizagens experienciais (acreditação). Foram, assim, colocadas as seguintes questões a debater em cada painel: Como fomentar boas práticas de intervenção social na UL – UTL? Que repercussões possíveis para o currículo e a progressão na carreira?

Tratando-se de jornadas do ciclo “Conhecer para intervir”, prevemos que as mesmas concluam com a eventual apresentação de recomendações sobre as repercussões curriculares e em termos de progressão na carreira da intervenção social, designadamente em termos de validação (acreditação) dessas aprendizagens experienciais.”

5 de novembro, em Lisboa.

Antero de Quental – Não me Fales de Glória: é Outro o Altar

Não me fales de glória: é outro o altar
Onde queimo piedoso o meu incenso,
E animado de fogo mais intenso,
De fé mais viva, vou sacrificar.

A glória! pois que ha n’ela que adorar?
Fumo, que sobre o abysmo anda suspenso…
Que vislumbre nos dá do amor immenso?
Esse amor que ventura faz gosar?

Ha outro mais perfeito, unico eterno,
Farol sobre ondas tormentosas firme,
De immoto brilho, poderoso e terno…

Só esse hei-de buscar, e confundir-me
Na essencia do amor puro, sempiterno…
Quero só n’esse fogo consumir-me!

Antero de Quental, ‘Sonetos’

(Imagem: Maggie Taylor)

Leituras: “Está tudo na cabeça”

O livro nem é novo, mas não teria dado por ele se não fosse a recomendação da livreira. “Está tudo na Cabeça”, como o título aponta, entra pelos territórios da saúde mental.  Primeiro romance de um político inglês, centrado num psiquiatra, Martin Sturrock.

Não há resumo que valha 🙂 Apenas notar que alguém a quem cabe ajudar os outros, comete os mesmos erros que em outros ajuda a superar. No final, se mais nada ficar, remanesce a necessidade de supervisão… Escrita leve e cuidada, a de Alastair Campbell. Casos que prendem e nos levam de página em página. Até ao fim.

“- Se há um grupo de pessoas que devia saber que os seres humanos não são máquinas, esse grupo somos nós. E, no entanto, enquanto seus doentes, e no meu caso sendo também político, não esperamos nós que aqueles que nos tratam, e aqueles que cumprem o que deles exigimos, sejam como máquinas, tenham todas as respostas, todas as soluções, e estejam lá quando precisamos deles, como nós queremos, sem nos interessarmos pelo que são enquanto seres humanos?” (Página 342)