Uma representação não é um objeto…
Uma imagem, mesmo que fantástica, não é realidade…
Palavras, mesmo que eloquentes, não são ações…
Uma representação não é um objeto…
Uma imagem, mesmo que fantástica, não é realidade…
Palavras, mesmo que eloquentes, não são ações…
Fábula da fábula
Era uma vez
Uma fábula famosa,
Alimentícia
E moralizadora,
Que, em verso e prosa,
Toda gente
Inteligente,
Prudente
E sabedora
Repetia
Aos filhos,
Aos netos
E aos bisnetos.
À base duns insectos,
De que não vale a pena fixar o nome,
A fábula garantia
Que quem cantava
Morria
De fome.
E realmente…
Simplesmente,
Enquanto a fábula contava,
Um demônio secreto segredava
Ao ouvido secreto
De cada criatura
Que quem não cantava
Morria de fartura.
Miguel Torga
Começo
Magoei os pés no chão onde nasci.
Cilícios de raivosa hostilidade
Abriram golpes na fragilidade
De criatura
Que não pude deixar de ser um dia.
Com lágrimas de pasmo e de amargura
Paguei à terra o pão que lhe pedia.
Comprei a consciência de que sou
Homem de trocas com a natureza.
Fera sentada à mesa
Depois de ter escoado o coração
Na incerteza
De comer o suor que semeou,
Varejou,
E, dobrada de lírica tristeza,
Carregou.
Miguel Torga
O assunto já andou por aqui, há uns anos, com “formas de fraude: cópia e plágio” e “pecados mortais dos estudantes: a desonestidade“. Voltemos a ele, porque renasce de vez em quando (uma espécide de fénix indesejável…).
Um destes dias estava a ler um trabalho e as frases, de repente, passaram a ler-se de outra forma, no concreto, mais eruditas, mais profundas. Voltei atrás, reli… Algo ali não parecia ser «do estilo», por isso, fiz copy de duas linhas (pois, leio ficheiros), abri o Google, fiz paste e pesquisar… Et voilá, lá estava, lindinho um pdf e dois parágrafos integrais reproduzidos. Verifiquei as referências do trabalho que estava a ler – aquele texto nem constava. Portanto, as aspas caíram e a memória da consulta e do copiar-colar também. Umas folhas adiante, o episódio repetiu-se, inteiramente. Com outro pdf, parágrafos reproduzidos, autores não referidos.
Nesta alturas fico principalmente indignada – em primeiro, pela desonestidade e pela evidência de algo que considero inaceitável; depois, pela falta de confiança em si mesmo que assume estes contornos bacocos e, em terceiro, pela eventual ideia subjacente que o leitor (ao caso, professor) não detetará e há uma elevada probabilidade de passar incólume. A repetição, no mesmo trabalho, deste estilo de comportamento, reforça esta ideia de passar despercebido e de se diluir ao longo do texto. A seguir, interrogo quantas vezes isto poderá ter acontecido, neste ou noutros casos, sem [eu] ter dado conta. A impunidade alimenta o crime?
Richard Axel e Linda B. Buck receberam, em 2004, o Nobel da Medicina, pelas pesquisas genéticas relativas ao sistema olfativo. Durante muito tempo, este parece ter sido o mais enigmático dos nossos sentidos. Não se sabia como se reconhecia e recordavam os odores (rondando os 10.ooo, de acordo com os dados divulgados). Axel e Bucl descobriram que existe uma família genética, composta por mil genes diferentes, que se situam no receptor olfativo das células, na parte alta do epitélio nasal, e detetam os odores inalados. Curioso que cada célula especializada num cheiro só possui um receptor. A maioria dos cheiros são compostos por múltiplas moléculas e cada uma ativa vários receptores olfativos.
The smelling test: The genetics of olfaction
The implications of the new research go wider than smell, however. Most of our sensation of taste comes from the odorants in food stimulating our olfactory receptors. “The wonderful enjoyment of a fresh tomato is practically only in the nose,” Lancet says. Awareness of individual variation in smell has already filtered through to the wine world, launching a debate about how valuable experts’ advice really is, when they may be having different smell – and hence taste – experiences from other people.
Por isso, há cheiros que nos incomodam ou agradam, eventualmente por razões genéticas, mais do que pela cultura ou o hábito…E esta conversa fez-me lembrar Patrick Suskind e O Perfume.
[…] Sim, era preciso que o amassem, quando estivessem debaixo do sortilégio do seu perfume; não apenas que o aceitassem como um deles, mas que o amassem até à loucura, até ao auto-sacrifício, que estremecessem de delírio, que gritassem, que chorassem de volúpia sem saber porquê, era preciso que caíssem de joelhos como ante o odor frio de Deus, sempre que o cheirassem, a ele, Grenouille! Tencionava ser o deus omnipotente do perfume, como o havia sido nas suas fantasias, mas que esta omnisciência se exercesse, doravante, no mundo real e em seres humanos reais. E sabia que isso estava nas suas mãos. De facto, os homens podiam fechar os olhos ante a grandiosidade, ante o louvor, ante a beleza e fechar os ouvidos a melodias ou palavras lisonjeiras. Não podiam, no entanto, furtar-se ao odor, dado que o odor era o irmão da respiração. Penetrava nos homens em simultâneo com ela; não podiam erguer-lhe obstáculos, caso lhes interessasse viver. E o odor penetrava directamente neles até ao coração e ali tomava decisões sobre a simpatia e o desprezo, a repugnância e o desejo, o amor e o ódio. Quem controla os odores, controlava o coração dos homens. […]
Em frente à Faculdade de Filosofia e ao Lado da Escola Superior de Enfermagem,
Ninguém deu por ela. “The story of this nanny who has now wowed the world with her photography, and who incidentally recorded some of the most interesting marvels and peculiarities of Urban America in the second half of the twentieth century is seemingly beyond belief.”
Morreu em 2009. E foi descoberto o seu espólio, de milhares de imagens (cerca de 100.000, ou mais), através de um acaso fortuito.
Vive-se Quando se Vive a Substância Intacta
Vive-se quando se vive a substância intacta
em estar a ser sua ardente harmonia
que se expande em clara atmosfera
leve e sem delírio ou talvez delirando
no vértice da frescura onde a imagem treme
um pouco na visão intensa e fluida
E tudo o que se vê é a ondeação
da transparência até aos confins do planeta
E há um momento em que o pensamento repousa
numa sílaba de ouro É a hora leve
do verão a sua correnteza
azul Há um paladar nas veias
e uma lisura de estar nas espáduas do dia
Que respiração tão alta da brisa fluvial!
Afluem energias de uma violência suave
Minúcias musicais sobre um fundo de brancura
A certeza de estar na fluidez animal
António Ramos Rosa
Depois de ter andado a protestar contra a utilização da palavra, recebi um email muito esclarecedor:
“A presidenta foi estudanta?
Existe a palavra: PRESIDENTA? Que tal colocarmos um “BASTA” no assunto?
No português existem os particípios activos como derivativos verbais. Por exemplo: o particípio activo do verbo atacar é atacante, de pedir é pedinte, o de cantar é cantante, o de existir é existente, o de mendicar é mendicante… Qual é o particípio activo do verbo ser? O particípio activo do verbo ser é ente. Aquele que é: o ente. Aquele que tem entidade.
Assim, quando queremos designar alguém com capacidade para exercer a ação que expressa um verbo, há que se adicionar à raiz verbal os sufixos ante, ente ou inte.
Portanto, a pessoa que preside é PRESIDENTE, e não “presidenta”, independentemente do sexo que tenha. Se diz capela ardente, e não capela “ardenta”; se diz estudante, e não “estudanta”; se diz adolescente, e não “adolescenta”; se diz paciente, e não “pacienta”.
Um bom exemplo do erro grosseiro seria:
“A candidata a presidenta se comporta como uma adolescenta pouco pacienta que imagina ter virado eleganta para tentar ser nomeada representanta. Esperamos vê-la algum dia sorridenta numa capela ardenta, pois esta dirigenta política, dentre tantas outras suas atitudes barbarizentas, não tem o direito de violentar o pobre português, só para ficar contenta”.
Por favor, pelo amor à língua portuguesa, repasse essa informação..”