Julien Benda nasceu em Paris, a 26 de Dezembro de 1867 e morreu a 7 de Junho de 1956. Crítico, escritor e filósofo francês, celebrizado pela obra La Trahison des clercs (A Traição dos Clérigos ou, em alternativa, A Traição dos Intelectuais), de 1927.
«A traição dos clérigos é a recusa dos valores universais e a sujeição do espiritual ao temporal.» Seriam então os «clérigos», na opinião de Benda, forçados a escolher entre contemplação e acção? O autor fora, de facto, bem explícito: «O clérigo deve dar a sua adesão ao ideal de esquerda, à metafísica de esquerda, mas não necessariamente à política de esquerda. A função do intelectual em matéria política é pregar o respeito pela justiça e pela verdade.» (…) «O clérigo não é forte senão se declara aos homens que o seu reino não é deste mundo…» (…) «O clérigo é crucificado mas a sua palavra obceca a memória dos homens.» Serão necessários exemplos? Sócrates e Jesus Cristo.René Étiemble, no prefácio que assinou trinta anos depois da edição original desta obra de Julien Benda, enumerava algumas «capelas» que o autor tanto parece ter perturbado: a bergsonista, a maurrasiana, a surrealista e a existencialista, interrogando: «Com uma só obra, porquê ter conquistado alguns milhares de inimigos: todos os clérigos que tinham traído, ou seja, quase todos os clérigos?» (fonte aqui)
Originário de família judaica, Julien Benda ficou à frente da empresa de exportação familiar até à falência desta em 1913, devendo a partir de então sobreviver da sua escrita. Na filosofia, foi crítico das ideias de Bergson em várias obras, a primeira das quais Le Bergsonisme ou Une philosophie de la mobilité (1912), baseando-se nos argumentos de Descartes e Espinosa.
Politicamente, muito difícil de rotular. Foi crítico da autoritária Action française, do fascismo e do nazismo. Conservador no plano estético e considerado “anti-moderno”, Benda foi um teórico da independência política e da neutralidade partidária dos intelectuais. Na sua opinião, os homens de espírito, ou clérigos, termo com que pretendeu acentuar a sua nobre missão ou clericatura (clericato), deveriam preocupar-se acima de tudo com a defesa dos valores eternos, abstractos e universais da verdade, justiça e liberdade, recusando a tentação laica das paixões de nação, raça, classe ou religião, isto é, o nacionalismo, o marxismo, o racismo, o nacionalismo judaico, a xenofobia e o militarismo. Perante as realidades da injustiça, da mentira e da opressão, o intelectual tinha o dever de descer à praça pública para tomar posição intransigente em defesa, exclusivamente, dos valores eternos e universais quando ameaçados.
Caracteriza a natureza das paixões políticas como provenientes de duas vontades fundamentais:
- Vontade que busca a satisfação de um interesse: esse primeiro tipo de vontade constitui o desejo, partilhado por um grupo de homens, de obter ou, se já o têm, de conservar determinado bem temporal, sejam territórios, conforto material ou o próprio poder político, com as vantagens temporais que este comporta.
- Vontade que busca a satisfação de um orgulho: corresponde a um desejo partilhado por um grupo de homens, porém relacionado a sentirem-se distintos de outros homens.
Ambas as vontades entram nas paixões políticas segundo diferentes tipos de relações, a depender da paixão considerada. Importante é notar que a paixão nacional obteve a reunião desses dois fatores, desejando o patriota, ao mesmo tempo, possuir um bem temporal e afirmar-se como distinto. Tal distinção seria o segredo de sua evidente superioridade e força com relação às demais paixões.Para Julien Benda, as paixões políticas seriam essencialmente paixões realistas. Tal posição justifica-se com o argumento de que ambas as vontades, que buscam a satisfação de um interesse ou de um orgulho, seriam componentes essenciais da vontade do homem “afirmar-se na existência real”.
“Benda is one of those figures who are more often invoked than examined. There are only two major studies of Benda in English, a literary analysis by Robert J. Niess, Julien Benda (1956), and a cultural/political analysis by Ray Nichols, Treason, Tradition, and the Intellectual (1978). Both works have extensive bibliographies which detail short pieces on Benda by such figures as T. S. Elliot. One of Benda’s articles (on French democracy and the Nazi threat) is translated in Justin O’Brien (editor), NRF: The Most Significant Writings from the Nouvelle Revue Francaise, 1919-1940 (1958). Selections from Benda’s Trahison appear in M. Curtis (editor), The Nature of Politics (1963), and in G. B. de Huszar (editor), The Intellectuals (1960). There have been full English translations of Benda’s Trahison (1928, reissued 1955) and Belphegor (1920)” aqui
“Julien Benda passa l’Occupation en zone sud : il fut à Carcassonne en août 1940, à Quillan dans l’Aude en mars 1941, et à Toulouse en mai 1944. Alors qu’il était mis à l’index par les listes Bernhard et Otto, les Allemands confisquèrent ses papiers et sa bibliothèque parisienne. Aidé par le Parti communiste pendant la guerre (via Andrée Viollis* selon G. Sapiro), il fut aussi en contact avec Jean Paulhan : c’est en grande partie par ce dernier que passèrent ses publications hors de France (La Grande épreuve des démocraties à New-York en 1942 et les textes donnés en Suisse à Confluence) ou clandestines sous le pseudonyme de Comminges (Le Rapport d’Uriel et Un antisémite sincère). Membre du Comité national des écrivains (CNE) de la zone sud et collaborateur des Étoiles, il écrivit aussi à la Libération dans le Patriote du Sud-Ouest, l’organe du Front national à Toulouse, à partir de septembre 1944. Après la guerre, il retrouva la posture qui était la sienne dans les années trente : ce compagnon de route anti-marxiste (et anti-existentialiste comme il avait été anti-bergsonien) retrouva sa tribune de L’Ordre en même temps qu’il collaborait aux Lettres françaises.”(aqui)
«In 1927 the French philosopher Julien Benda published a piercing attack on the intellectuals of his day. They should, he argued in La Trahison des Clercs (the treason of the scholars) act as a check on popular passions(1). Civilisation, he claimed, is possible only if intellectuals stand in opposition to the demands of political “realism” by upholding universal principles. “Thanks to the scholars,” Benda maintained, “humanity did evil for two thousand years, but honoured good.” Europe might have been lying in the gutter, but it was looking at the stars.
But those ideals, he argued, had been lost. Europe was now lying in the gutter, looking in the gutter. The “immense majority” of intellectuals, artists and clergy had joined “the chorus of hatreds”: nationalism, racism, the worship of power and war. In doing so, they justified and magnified political passions. Across Europe, scholars on both the left and the right had become “ready to support in their own countries the most flagrant injustices”, to abandon universal principles in favour of national exceptionalism and to proclaim “the supreme morality of violence”. He quoted the French anarcho-syndicalist Georges Sorel, who eulogised “the superb blond beast wandering in search of prey and carnage”.
The result of this intellectual support for domination, Benda argued, was that there was now no moral check on the pursuit of self-interest. Rather than forming a bulwark against popular delusions, Europe’s thinkers turned them into doctrines. With remarkable foresight, he predicted that this would lead inexorably to “the greatest and most perfect war ever seen in the world”. This war would be genocidal in intent(2), and would not be stopped by any treaties or institutions. In 1927 these were bold claims.» (fonte aqui)
No final da vida, com mais de 80 anos, Benda traiu os princípios que ele próprio propagandeara, tornando-se um apoiante da União Soviética de Stalin e dos processos políticos forjados contra opositores condenados à morte.
- Dialogues à Byzance, La Revue blanche, 1900
- Mon premier testament, Cahiers de la Quinzaine, 1910
- Dialogue d’Eleuthère, Cahiers de la Quinzaine, 1911
- L’Ordination, Cahiers de la Quinzaine, 1911
- Le Bergsonisme, ou Une philosophie de la mobilité, Mercure de France, 1912
- Une philosophie pathétique, Cahiers de la Quinzaine, 1913
- Sur le succès du bergsonisme. Précédé d’une Réponse aux défenseurs de la doctrine’, Mercure de France, 1914
- Les Sentiments de Critias, Emile-Paul frères, 1917
- Belphégor : essai sur l’esthétique de la présente société française, Emile-Paul frères, 1918
- Les Amorandes, Emile-Paul frères, 1921
- Le Bouquet de Glycère, trois dialogues, Emile-Paul frères, 1921
- La Croix de roses ; précédé d’un dialogue d’Eleuthère avec l’auteur, Grasset, 1923
- Billets de Sirius, Le Divan, 1925
- Lettres à Mélisande pour son éducation philosophique, Le livre, 1925
- Pour les vieux garçons, Emile-Paul frères, 1926
- La Trahison des clercs, Grasset, 1927 (A Traição dos Intelectuais)
- Les Amants de Tibur, Grasset, 1928
- Cléanthis ou Du beau et de l’actuel, Grasset, 1928
- Properce, ou, Les amants de Tibur’, Grasset, 1928
- Supplément à De l’esprit de faction de Saint-Evremond, éditions du Trianon, 1929
- Appositions, Nouvelle Revue Française, 1930
- Esquisse d’une histoire des Français dans leur volonté d’être une nation, Gallimard, 1932
- Discours à la nation européenne, Gallimard, 1933
- La jeunesse d’un clerc, Gallimard, 1936
- Précision (1930-1937), Gallimard, 1937
- Un régulier dans le siècle, Gallimard, 1938
- La grande épreuve des démocraties : essai sur les principes démocratiques : leur nature, leur histoire, leur valeur philosophique, Éditions de La Maison Française, 1942
- Un Antisémite sincère, Comité National des écrivains, 1944
- La France byzantine, ou, Le triomphe de la littérature pure : Mallarmé, Gide, Proust, Valéry, Alain Giraudoux, Suarès, les Surréalistes : essai d’une psychologie originelle du littérateur, Gallimard, 1945
- Exercice d’un enterré vif, juin 1940-août 1944, Éditions des Trois Collines, 1945
- Du Poétique selon l’humanité, non selon les poètes, Editions des Trois Collines, 1946
- Non possumus. À propos d’une certaine poésie moderne, Editions de la Nouvelle Revue Critique, 1946
- Le rapport d’Uriel, Flammarion, 1946
- Tradition de l’existentialisme, ou, Les philosophies de la vie, Grasset 1947
- Trois idoles romantiques : le dynamisme, l’existentialisme, la dialectique matérialiste, Mont-Blanc, 1948
- Du style d’idées : réflexions sur la pensée, sa nature, ses réalisations, sa valeur morale, Gallimard, 1948
- Deux croisades pour la paix juridique et sentimentale, Editions du Temple, 1948
- Songe d’Éleuthère, Grasset, 1949
- Les cahiers d’un clerc, 1936-1949, Emile-Paul frères, 1950
- De Quelques constantes de l’esprit humain, critique du mobilisme contemporain, Bergson, Brunschvieg, Boutroux, Le Roy, Bachelard, Rougier, Gallimard, 1950
- Mémoires d’infra-tombe, Juillard, 1952