do uso das metáforas ou dos criadores de enigmas

Gosto de metáforas.
Ando por elas, de quando em vez e de vez em quando.

Hoje, volto a elas. Porque juntam e cruzam diferentes tipos e categorias de seres que, na realidade, não podem ser reunidos.

São uma espécie de enigma ontológico, que podemos resolver (parcialmente, pelo menos), se compreendermos a metáfora. Portanto, metáforas como encruzilhadas de sentidos.

Podem fazer-se metáforas de quaisquer duas coisas para as quais existam palavras. Pois que as metáforas são feitas de palavras e as palavras não são as coisas mas nomes das coisas.

Cada metáfora altera ou modifica a realidade existente, pelo menos no que se refere à oralidade, ao verbal. E, assim, cada metáfora é potencialmente criadora – de novo sentido, de nova realidade. Até porque não segue as leis da lógica – na maioria das vezes, são ilógicas e lembram-nos que o ser humano não vive apenas da ou pela razão. Daí, a poesia. A literatura. A imaginação. A emoção.

Ademais, o uso das metáforas, como engimas, está destinado a ser resolvido.
Mesmo as mais obscuras e difíceis.
Pois que as metáforas criam a sua própria realidade tentando explicar uma parte de outra realidade — as nossas origens, a vida no planeta, os enigmas de ser. E são intrínsecas à utilização de símbolos.

Uma das piores coisas que pode acontecer é não se saber quando se está a lidar com metáforas, quando se confundem com a realidade, ou não conseguir resolver uma metáfora, perceber como é que a realidade está a ser mediada.

(imagem aqui)

Autor: LN

LN é sigla de Lucília Nunes. Este blog nasceu no Sapo em 2001. Esteve no Blogspot desde 01.01.2005. Importado para Wordpress a 21.10.2007. Ligado ao FaceBook desde 13.12.2010 (e desligado em 2017).

6 opiniões sobre “do uso das metáforas ou dos criadores de enigmas”

  1. Esticando o pensamento de Hume que está algures mais acima, gostamos de ler aquilo que escreve quem gosta de escrever o que gostamos de ler.
    A imagem é em si mesma, uma metáfora e as representações gráficas que encerram em si a intenção de o ser às vezes são difíceis de ir buscar, esta não, e é feliz na sua simplicidade
    Continuaremos…

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  2. Continuando…
    Prefiro olhar metáforas a entreter-me com falácias ou sofismas. As metáforas pertencem a outro nível do jogo. É uma espécie de posicionamento do jogador de xadrez: logo a seguir ao ter conhecimento sobre dois ou três tipos de ‘saídas’, mais umas ‘defesas’ bastante conservadoras e aí temos o nosso homem (a minha linguagem é masculina) a ‘brincar’ com os cavalos tal qual brilhava Raul Capablanca nos anos 30.
    As metáforas são uma extensão da linguagem a que alguns de nós associam representações gráficas para vincar mais fortemente a analogia que se quer destacada.

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  3. Curioso, e gentil, o esticar de David Hume (risos).

    Uma das minhas maiores influências (Hannah Arendt, pois sim) usava a ideia da etimologia e das meta-phorein, como passagens para além de….

    E eu não sou muito «esquisita» – gosto de metáforas, de argumentos, de pensar falácias, dos jogos semânticos,…

    A minha linhagem é feminina (risos) , o que pode influenciar que veja como um tecer em que o desenho se inventa e perde sentido só com uns fios. Ou um bordado em ponto pé-de-flor, que vai adiante e volta atrás. (Como não estou a falar de dotes de costura, são metáforas, claro!). Ou, mais feliz, diria, um bailado de ideias, uma coreografia mental em que o todo e a sequência estão sempre sujeitas ao espírito do momento…

    continuaremos :))

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  4. A minha graduação em bordados não vai além do ponto de cruz e recordo o fascínio de uma visita ao Zimbabwe em que fiquei horas a ver tecer grandes panos, sempre a azul e branco (o cliente era eu), sem que a tecedeira artesanal tivesse o modelo na sua frente. A representação estava naquela mente ou era construída à medida do tempo de trabalho.
    O comentário da LN expresso acima contém outra vez metáforas concentradas em representações ou imagens gráficas. E agora fica a questão – séria – as imagens que acompanham os seus posts são metáforas (às vezes) ou são apenas ilustrações? São em maior número as ilustrações? Há uma ‘vontade’ em procurar a metáfora?!

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