Um texto fluido e interessante, que se lê “de uma penada”, claramente escrito pelo Professor Walter Osswald. Ocupa-se mais do processo de morrer e entremeia o percurso histórico da concepção e atitudes perante a morte, com a literatura e os modos de morrer hoje em Portugal. E se o olhar pode ser pessoal, há alguns argumentos de peso inegável…
Das conclusões:
“Na sua longuíssima convivência com a morte, o Homem sempre foi confrontado com o mistéiro e a inevitabilidade. Em diferentes fases do seu percurso civilazional, personificou-a (como Cavaleiro do Apocalipse, como Thanatos, como Irmã Morte, como esqueleto armado de roçadoura, etc)ou endeusou-a (Egipto). Tornada presença habitual pelas pestes que grassaram na Europa, pelas guerras que a dilaceraram, pelas deficientes condições higiénicas, pela elevada taxa de perda perinatal e infantil, acabou por ser donada, na medida emque se tornou um acontecimento quase banal, temido mas não estranho.
A esta fase seguiu-se a do escamoteamento, senão negação, da morte: já que não a podemos evitar, ignoremo-la. Logo, nada de a lembrar, de a celebrar: esconde-se das crianças, não se lhe dá relevo público, remete-se para o hospital, de modo que as nossas casas não sejam por ela assinaladas nem detectado o seu odor.
Este esforço pueril e votado aofracasso tem sido, felizmente, denunciado e combatido. Reconhecer a morte, atribuir signifcado e exigência no processod e morrer são hoje as linhas mestras do pensamento antropológico e filosófico. Se há um inegociãvel e universalmente vãlido direito à vida, também há um direito à boa morte, ou seja, umamorte em dondições de dignidade e de compostura, sem sofrimento, aureolada de afecto.
Mas a realidade mostra-nos que ainda muitas vezes se morre em distanásia, ou seja, uma má morte. (…) O desafio é, pois, propiciar condições para que cada um possa viver a sua morte de modo que ela seja um momento culminanteda sua vida, uma boa morte….” p. 73-74
Conversamos?!... 