Pensamento do dia

IMG_2144Toda arte e toda investigação, bem como toda ação e toda escolha, visam a um bem qualquer; e por isso foi dito, não sem razão, que o bem é aquilo a que as coisas tendem. Mas entre os fins observa-se uma certa diversidade: alguns são atividades, outros são produtos distintos das atividades das quais resultam; e onde há fins distintos das ações, tais fins são, por natureza, mais excelentes do que as últimas. Mas como muitas são as ações, artes e ciências, muitas também são suas finalidades.

Aristóteles

Do que, às vezes, falta…

 

Afirmou Aristóteles que “a virtude é (i) uma disposição (ii) ligada à escolha, (iii) residindo na mediedade relativa a nós, (iv) determinada pela razão e (v) tal como o prudente a determinaria” (Ética a Nicómaco, 1106b 36- 1107a 2).

Um justo meio, entre um excesso e um defeito…. como é o caso da paciência, virtude subordinada à fortaleza (hoje mais correntemente  designada por coragem) e que consiste na capacidade constante de suportar as adversidades. Trata-se de ter serenidade para enfrentar as contrariedades conservando a calma e o equilíbrio interior, conseguindo compreender melhor as circunstâncias, gerando paz e harmonia em torno de si.

Paciência diz respeito a esperar o tempo da realização – ou seja, sentir e atribuir o valor do (único) momento que existe, o presente precioso, o momento presente. Por isso torna (cada um) mais amável, mais sereno, mais sábio. É suposto que pode ser aumentada com a prática (deliberada e constante). E é precisa – para lidar consigo e com os outros, com o calor do dia a dia, os aborrecimentos, o trânsito, aquela pessoa que nos exaspera, os grãos de areia….

Tem alturas em que (me) falta, reconheço… e a contrapôr à exasperação, recordo a sabedoria de «quem tem pressa, tropeça». (Et voilá! lá se estendem as mãos a aparar a queda!).

(imagem “sand sculpture”, aqui)



uma moldura: quem, que, como, porque

Gosto de separar o “Quem” e o “Que”.
O sujeito e o(s) atributo(s) que o caracteriza(m) – é preciso perceber os “Quem’s” envolvidos nas coisas – e distinguir o “como”, que é apanágio dos processos.
“Quem sou”, difere de “o que sou” e difere do “modo de fazer” as coisas (o como). Como o sentido global de ser Quem sou, não se esgota no que de ser enfermeira, professora, mãe… ou à forma como converso, preparo aulas, vejo filmes, defendo ideias.

Às vezes, juntamos tudo. Quem, o que, o como.
E, mais, às vezes até achamos que os Outros gostam (mais) de nós quando o Quem, Que faz as coisas, as faz Muito Bem. Conversando com uma amiga, chegávamos a essa conclusão: da mistura (enraigada, desde a infância?) entre os sentidos de se gostar de um alguém (Quem) Que faz as coisas (como?) de um modo certo. Ou de se pensar de si, que se é mais gostado pelos outros quando se age bem, se tem boas notas, se alcança sucesso… ou, em sentido inverso, que ser criticado ou algo correr mal, significa que o afecto dos Outros diminui. Não sei se estou a ser clara, na conversa. Mas em muitos momentos, devia ser mesmo às avessas.

Se o Quem decide os Que‘s e os Como‘s, ainda assim falta o porquê – que é da linha das razões e não sai fora deste excerto de conversa.
Quem gere a sua vida, decide o Que fazer e também o modo (Como), diferencia-se também pelos porquês que suportam a sua conduta.

Afinal, há coisas para as quais não há atalhos… ou não há modo de atalhar.
(que era o que Aristóteles dizia a Alexandre, a propósito da Filosofia).

citando…


















“The poet being an imitator, like a painter or any other artist, must of necessity imitate one of three objects – things as they were or are, things as they are said or thought to be, or things as they ought to be. The vehicle of expression is language – either current terms or, it may be, rare words or metaphors.”

Aristoteles
Poetics
livro on line
e
aqui também (grata a quem ofereceu o link, em comentário)

(imagem: Chateau, Magritte)

de curiosos, eruditos e conhecedores


uma formiga? Posted by Hello

O desejo de saber é intrínseco à natureza humana, como Aristóteles declarou no início da Metafísica – todo o homem deseja necessariamente conhecer.
Não há ninguém desprovido de curiosidade. Tanto é assim, que temos prazer na activi­dade dos sentidos, independentemente da sua utilidade. Sto Agostinho falava da «concupiscência dos olhos»…. a curiosidade não se fica por aquilo que lhe está próximo; pelo contrário, procura o que está longe. Mas ao chegar ao longe, torna-o perto, e, assim, vai aniquilando a distância que procura.

Por isso, a curiosidade caracteriza-se pela instabilidade, pela incapacidade de permanecer no mesmo sítio, no mesmo conhecimento. Tem de passar necessariamente a outro, num desassossego contínuo, numa excitação permanente. Sempre e sempre em busca da novidade, da mudança das coisas.

Uma diferença relevante reside no facto de a curiosidade não visar compreender mas tão só ver, satisfazer o desejo e a gulodice da vista. Por isso sabemos que ser «curioso» numa matéria difere de ser conhecedor – para o conhecimento é preciso permanecer, integrar, reformular.
Todavia, é da curiosidade que parte o impulso para conhecer…

Da mesma forma, é preciso distinguir entre erudição e conhecimento.
Um erudito conhece as teorias, cita as conclusões e as teorias de outros. Pode dizer-se que as memorizou, que sabe dos caminhos já percorridos. E se bem que todas as sociedades precisem de pessoas eruditas, atrever-me-ei a dizer que não basta…

Não é forçoso que um erudito, que inegavelmente tem boa memória, tenha opinião própria.
Como não é forçoso que alguém curioso venha a tornar-se conhecedor do assunto…

O método de ensino eficaz, segundo Feynman, deveria formar indivíduos curiosos.
Damos muita teoria e informação, mas ensinamos pouco como usar as informações aprendidas.
Provavelmente, todos procuramos formas de passar
da curiosidade ao conhecimento,
da informação ao uso da informação,
da acumulação de dados à reflexão e criação de opinião…